21 dezembro 2025

Nikolas Ferreira movimenta quase R$ 1 milhão em anúncios da Meta para vender “curso cristão” com viés político

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Uma investigação publicada pelo site The Intercept Brasil revelou que o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) está por trás de uma operação milionária de marketing digital voltada para a venda de cursos online com forte apelo religioso e viés ideológico. Por meio da empresa Destra Cursos LTDA, da qual é sócio, Nikolas investiu R$ 745 mil em anúncios pagos nas plataformas da Meta (Facebook e Instagram) entre abril de 2024 e abril de 2025.

O investimento expressivo teve como objetivo atrair cristãos conservadores para uma plataforma de ensino que, apesar de se apresentar como educativa, atua na prática como uma espécie de “Netflix da direita cristã”, com conteúdos que misturam autoajuda, patriotismo, doutrinação política e discursos religiosos.

A publicidade veiculada nas redes da Meta atingiu milhares de brasileiros e foi direcionada a um público evangélico e católico identificado com valores morais tradicionais, nacionalismo e oposição à esquerda política.

A atuação da Meta (empresa controladora do Facebook e Instagram) é peça-chave no sucesso da empreitada. Por meio das ferramentas de impulsionamento e segmentação de público, a Destra Cursos alcançou uma audiência altamente segmentada, utilizando a infraestrutura das redes sociais para vender um curso de assinatura com planos que chegam a R$ 497 por aluno.

Estima-se que mais de 60 mil pessoas já tenham adquirido a plataforma — o que representa um faturamento superior a R$ 30 milhões em apenas um ano, muito acima do salário parlamentar de Nikolas, atualmente em torno de R$ 46 mil mensais.

Dividido em etapas como Formação Destra, Le Circle, Destra Front e For The Nations, o curso conduz os inscritos a uma jornada que começa com temas como “vida espiritual” e “inteligência emocional”, mas rapidamente se transforma em apelos para “lutar contra o mal”, “resistir ao comunismo” e “defender os valores cristãos no Congresso”.

No módulo final, é o próprio Nikolas quem aparece com mais frequência, pregando uma visão dicotômica entre “cristãos conservadores do bem” e “inimigos da moral”, incentivando o engajamento político e a defesa de seu projeto ideológico.

Críticos apontam que Nikolas está monetizando a fé de seus seguidores e utilizando sua visibilidade parlamentar para impulsionar um empreendimento que se vale da estrutura pública do mandato para fins privados. O caso reacendeu o debate sobre o uso comercial de redes sociais por políticos, e já existe um projeto de lei na Câmara apelidado de “Lei Anti-Nikolas”, que visa proibir a monetização digital por parlamentares em exercício.

Além disso, o uso intensivo da Meta para propagar esse conteúdo levanta discussões éticas sobre o papel das big techs na radicalização política disfarçada de educação religiosa.

O caso expõe uma nova e sofisticada forma de captura da opinião pública: o marketing religioso digital com fins eleitorais. Enquanto se apresenta como uma ferramenta de “formação cristã”, a plataforma opera como uma máquina de propaganda e arrecadação política, desafiando os limites entre fé, política, lucro e influência.

 

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