A cantora Preta Gil, que faleceu no último domingo (20), aos 50 anos, nos Estados Unidos, lutava contra um câncer no intestino desde 2023 e realizava um tratamento experimental com foco em terapia-alvo. A abordagem médica, ainda em fase de estudos, era uma alternativa após o esgotamento das opções de tratamento convencionais no Brasil.
Preta participava de um estudo clínico avançado no Virginia Cancer Institute, em Washington, com medicamentos ainda não disponíveis para uso regular. O protocolo envolvia uma combinação de remédios, incluindo bevacizumabe (da categoria de terapia-alvo) e fluoruracila, que é usado como tratamento paliativo em casos de câncer agressivo. Ela também passava por sessões de quimioterapia endovenosa a cada 12 dias.
Segundo o oncologista Rafael Botan, da Oncoclínicas de Brasília, a terapia-alvo atua a partir das mutações genéticas específicas do tumor. “Ela não é indicada para todos os tipos de câncer. Algumas mutações respondem bem, outras não têm esse tipo de recurso disponível”, explicou.
Histórico da doença
Preta Gil foi diagnosticada com câncer colorretal em janeiro de 2023. Iniciou o tratamento com sessões de quimioterapia e radioterapia, e, em agosto de 2024, passou por uma cirurgia para retirada dos tumores. Entretanto, exames posteriores revelaram a metástase do câncer para outras quatro regiões do corpo.
Em dezembro do mesmo ano, a cantora enfrentou uma nova cirurgia, que durou 21 horas, e precisou passar a usar uma bolsa de colostomia definitiva. Com as alternativas no Brasil esgotadas, ela decidiu buscar tratamento nos EUA, iniciando o novo protocolo em abril de 2025.
Apesar da esperança no tratamento experimental, a resposta imunológica da artista não foi a esperada pelos médicos, e a doença continuou avançando. Em julho, após saber que o tratamento não estava surtindo efeito, Preta manifestou a intenção de retornar ao Brasil, mas passou mal enquanto se preparava para a viagem.
Realidade de muitos pacientes
O oncologista Fernando Zamprogno, da rede Kora Saúde, explica que buscar tratamentos em outros países é uma alternativa comum entre pacientes que possuem condições financeiras e que já tentaram todas as possibilidades clínicas aprovadas no Brasil.
“Nos Estados Unidos, a estrutura de pesquisa clínica é muito maior, o que amplia o acesso a medicamentos inovadores. Ainda que o Brasil tenha evoluído nesse campo, muitos estudos ainda estão em fases iniciais”, afirmou Zamprogno.
Preta Gil compartilhou boa parte de sua jornada com os fãs pelas redes sociais, relatando cada etapa do processo, das cirurgias aos tratamentos. A artista enfrentou a doença com coragem e transparência, tornando sua luta pública na tentativa de conscientizar e ajudar outras pessoas que também enfrentam o câncer.