11 dezembro 2025

A rebeldia mudou de endereço: seria o funk e o trap o novo rock?

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A revolução cultural que o rock promoveu nos anos 70 e 80, hoje pulsa nos becos e vielas do Brasil em forma de grave e rima. Mas ao contrário do que foi vivido por artistas conceituais de classe média, os protagonistas atuais da rebeldia musical seguem sendo alvo de criminalização e censura. O que incomoda, afinal, seria somente o som, ou quem está com o microfone na mão?

A explosão do funk e do trap no Brasil revela mais do que uma mudança estética: expõe um novo campo de disputa simbólica. Gêneros nascidos nas periferias urbanas, ambos herdaram a linguagem da transgressão que um dia fez do rock uma cultura de choque. Hoje, são as batidas graves e as letras afiadas que traduzem o desconforto com as estruturas de poder, o desejo de pertencer e a urgência de existir.

Veja as fotosAbrir em tela cheia Rapper Japão VilelaRapper Japão Vilela/Reprodução Pedro Paulo Soares Pereira, mais conhecido como Mano Brown, é um dos integrantes dos Racionais MC’s.Reprodução/Mano Brown
Mano Brown e OruamFoto: Reprodução/Instagram @manobrown @jefdelgado

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Esses gêneros musicais periféricos, numa perspectiva mais sociológica e antropológica, são uma forma de resistência que contesta as estruturas de poder e as perspectivas dominantes sobre como ser integrado aos fluxos de consumo, comunicação e cidadania. Já para pesquisadores da PUC-SP, o funk está diretamente vinculado a uma “prática de resistência juvenil racializada”.

Essa resistência, no entanto, tem seu peso amplificado quando está ligada a corpos negros e pobres. Mano Brown, referência central do rap brasileiro, já disse que a nova geração deve mesmo cantar sobre conquistas e empoderamento. Sobre amor. Porque eles fizeram o trabalho de base no início para abrir caminho para que o povo periférico possa manifestar mais do que a violência urbana presenciada no lugar onde nasceu.

A seleção de quem é aceito como rebelde é o centro da discussão. O comportamento autodestrutivo e polêmico de roqueiros dos anos 80 foi transformado em misticismo; já a mesma atitude em um artista do funk ou trap é tratada como desvio de caráter. O problema não é o que se canta, mas quem canta.

Em entrevista exclusiva ao portal LeoDias, o rapper Japão Vilela resumiu: “A música da periferia sempre teve um propósito claro: entreter e informar quem vive à margem… o respeito veio só depois que a periferia se mostrou lucrativa.”

Câmbio, outro nome histórico da cena de Brasília, reforça: “Essas manifestações culturais periféricas eram muito marginalizadas. Ainda são, mas antigamente era muito pior. Tomar porrada da polícia só por dançar break era rotina.”

Enquanto o rock se tornou clássico, o funk e o trap seguem sob julgamento. Mas, o ruído que causam é justamente o eco de vozes que o sistema não consegue calar. São o novo som da rebeldia.

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