Bocas cobertas com adesivos e correntes amarradas nas mãos. Parece até cena de ficção, mas foi o que aconteceu nos plenários das Casas Legislativas do Brasil nesta semana. Parlamentares de oposição ocuparam as mesas diretoras da Câmara e do Senado em protesto à prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Durante a manifestação, eles também fizeram refeições e participaram de momentos de oração. Mas, afinal, o que explica esse comportamento por parte de representantes da população?
O inconsciente coletivo em ação
Para analisar esse cenário, o conversou com a psicóloga e especialista em análise comportamental Rosimar Ferraz. Ela explica que conceitos de teóricos que estudaram o comportamento humano em grupo ajudam a compreender a postura da oposição.
Veja as fotosAbrir em tela cheia Deputados da oposição protestam na Câmara após prisão de BolsonaroReprodução: Instagram Deputado usa adesivo cobrindo boca, olhos e orelhasReprodução: X Deputados da oposição protestam na Câmara após prisão de BolsonaroFoto: Bruno Spada Nikolas Ferreira diz que foi agredido por Camila JaraReprodução X @nikolas_dm/ montagem Obstrução na Câmara dos Deputados; na foto, parlamentares como Mario Frias e Marcel Van HattemReprodução: Instagram/@mariofriasoficial
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“Nos momentos de tensão, o inconsciente coletivo é ativado, fazendo com que as reações, emoções e comportamentos sejam influenciados sem a consciência real dessas ações. Esse inconsciente coletivo se torna uma forte conexão com pensamentos de nossos ancestrais”, afirma a especialista.
Jung, arquétipos e comportamento em grupo
Segundo Rosimar, o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung aponta que “na teoria junguiana o homem é fruto do meio e, quando exposto a situações de pressão, busca padrões de comportamento e pensamento onde os arquétipos, como a figura dos heróis, mãe, pai, o velho sábio e outros, se manifestam”.
Henri Tajfel e Curtis Levis destacam que, quando uma pessoa se identifica fortemente com um grupo ou líder, pode tomar decisões impulsivas sem avaliar riscos. Já Jacob Levy Moreno, criador do psicodrama, aborda a influência dos papéis sociais e das matrizes de identidade.
“Esses teóricos nos ajuda a compreender o que está por trás do senso de pertencente gerado nesses grupos, alterando sua percepção de mundo e levando a um estado de dependência emocional — seja em relação a um líder religioso, político ou até mesmo a uma ideologia —, gerando uma identidade grupal como um símbolo libertador”, acrescenta.
Mas e a imagem pública de um parlamentar? De acordo com Rosimar, “quando essa crença é ameaçada, gera o sentimento de ameaça pessoal, despertando reações intensas como indignação, raiva e senso de justiça, porque ativa o sistema límbico excitando o córtex pré-frontal, silenciando-o momentaneamente, favorecendo tomadas de decisões impulsivas e colocando sua imagem pública em risco.”
Ela explica ainda que, em protestos, a ação coletiva costuma gerar sensação de imediatismo, urgência e legitimidade. Esse fenômeno traz consigo polarizações — o chamado “contágio emocional amplificado nos grupos sociais” —, o que contribui para a quebra de regras e leis estabelecidas, inclusive as democráticas.
A psicóloga defende que o aspecto emocional deveria ser mais trabalhado pelos representantes. “Por isso, pessoas públicas deveriam trabalhar sua regulação emocional para atuarem em crises institucionais com equilíbrio, mediando conflitos e abrindo espaço para o bom senso e o diálogo na defesa da democracia.”






