A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou, nesta sexta-feira (22/8), que a Polícia Federal (PF) deveria centrar o trabalho na “apuração dos fatos” e não na “criação de notícias”. As expressões aparecem nas explicações sobre o rascunho de um pedido de asilo político à Argentina encontrado pela corporação no celular do ex-mandatário.
Os esclarecimentos atendem a uma determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes no âmbito do inquérito que apura a atuação do ex-presidente na suposta obstrução do processo da Ação Penal 2.668. A referida ação penal diz respeito à suposta trama golpista iniciada em 2022 para manter Bolsonaro no poder mesmo após a vitória nas urnas do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Os advogados de Bolsonaro criticam a divulgação de conversas, consideradas por eles, de cunho estritamente pessoal entre o ex-presidente e familiares e aliados políticos.
“Nada disso deveria importar no relato sobre a investigação. E a Polícia Federal, tão acostumada a grandes operações que partem de amplas interceptações telefônicas, sabe que conversas privadas e temas da intimidade não devem ter qualquer destaque. Afinal, bem sabe que a investigação deve começar e terminar na apuração dos fatos, não na criação de notícias”, critica.
“VTNC”
Um dos trechos de conversas que vieram a público e incomodaram o clã Bolsonaro foi uma mensagem do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) com xingamentos.
“Eu ia deixar de lado a história do Tarcísio, mas graça [sic] aos elogios que vc fez a mim no Poder 360 estou pensando seriamente em dar mais uma porrada nele, para ver se vc aprender [sic]. VTNC [vai tomar no cu] SEU INGRATO DO CARALHO!”, disse o deputado federal ao pai em mensagem enviada por WhatsApp.
Moraes havia dado prazo até esta sexta-feira para que os advogados de Bolsonaro enviassem esclarecimentos sobre um documento encontrado em poder de Bolsonaro que seria um possível pedido de asilo político na Argentina. O país vizinho é presidido por Javier Milei, político da extrema direita e aliado político de Bolsonaro.
De acordo com a Polícia Federal, o rascunho do suposto pedido de asilo político foi localizado no celular de Bolsonaro em um arquivo de texto, com última modificação em 12 de fevereiro do ano passado, no qual mostrava a intenção do ex-presidente de ir à Argentina.
As explicações de Bolsonaro ao STF têm o objetivo de convencer Moraes de que o ex-presidente não teria descumprido medidas cautelares decretadas anteriormente, como o não uso de redes sociais, por exemplo. O entendimento de que tenha havido o desrespeito é visto como um motivo para uma possível decretação de prisão preventiva de Bolsonaro.
O ex-presidente está em prisão domiciliar e com uso de tornozeleira eletrônica por determinação de Moraes.