Atenção: a matéria a seguir traz conteúdos sensíveis e pode ocasionar gatilhos sobre estupro, violência contra a mulher e violência doméstica. Caso você seja vítima deste tipo de violência ou conheça alguém que passe ou já passou por isso, procure ajuda e denuncie. Ligue para o 180.
O caso em que o padre João José Bezerra é acusado de ter agredido uma idosa de 62 anos durante um suposto exorcismo realizado na missa na Paróquia Nossa Senhora Consolata, de São Manuel, São Paulo, na semana passada, pegou os fiéis de surpresa. O sacerdote, faixa-preta em jiu-jítsu está respondendo por lesão corporal após a vítima declarar em Boletim de Ocorrência que sofreu tapas, puxões de cabelo, arremesso no banco da igreja. Para entender como ocorre um exorcismo, a reportagem do portal LeoDias entrevistou o padre exorcista e psicólogo Raimundo Santos, da Diocese de Caxias do Maranhão.
O padre ouvido por este veículo também analisou a conduta do padre acusado: “A reação impulsiva, caso confirmada, pode refletir dificuldade de lidar com situações imprevisíveis e tensão entre a função ministerial e a dimensão humana, sujeita a falhas. O episódio evidencia a necessidade de diálogo interdisciplinar (teológico, médico, psicológico) para compreender adequadamente fenômenos complexos como manifestações religiosas extremas.”
Veja as fotosAbrir em tela cheia Suposta vítima após suposta agressãoFoto: São Manuel Conectado Padre João José Bezerra é faixa-preta em jiu-jítsuFoto: Arquivo pessoal Padre João José Bezerra e a vítima idosaFoto: Arquivo pessoal e reprodução São Manuel Conectado/ montagem
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Não são todos os padres que podem realizar exorcismo. É preciso que o bispo de cada diocese escolha um padre para realizar um curso preparatório para a utilização do Ritual maior. É importante citar que todos os padres podem realizar o chamado exorcismo menor, como na realização dos batizados.
“Não se faz exorcismo solene durante a missa. Sim, a missa já contém orações de libertação pelo poder de Cristo, mas não se transforma num rito de exorcismo. Casos graves são tratados separadamente por padres autorizados e de modo reservado”, explicou. A vítima afirmou que quando o padre João passava com o Santíssimo (hóstia consagrada considerada o corpo de Jesus para os católicos) pela igreja, ela continuou deitada no chão, alegando que “repousou no Espírito Santo”.
Ainda conforme o boletim de ocorrência, “passado algum tempo, começou a manifestar um espírito maligno, entrando em estado de inconsciência”. Neste momento, conforme a vítima, o padre começou a agredi-la com tapas, puxões de cabelo e a arremessou no banco da igreja. A mulher relatou para os agentes da polícia que pediu para que o sacerdote parasse, mas ele só parou quando foi controlado por outros fiéis, que a protegeram. Ele foi embora sem prestar esclarecimentos.
“A tradição e a experiência pastoral da Igreja Católica reconhecem que, na presença de Jesus na Eucaristia — especialmente em procissões, bênçãos com o Santíssimo ou durante a Missa —, pessoas sob influência demoníaca podem manifestar sinais de perturbação ou resistência. Mas é importante entender com clareza o que isso significa e o que não significa”, continuou o exorcista.
Segundo ele, há casos em que pessoas se ferem durante um exorcismo ou manifestação de possessão, mas a Igreja entende isso como resultado dos movimentos violentos ou resistência interior da pessoa sob influência maligna — não porque o exorcista machucou, nem porque o demônio “bateu diretamente” nela como um agente físico puro. Por isso, o procedimento é sempre cauteloso, acompanhado de oração, avaliação médica e supervisão da autoridade eclesial.
“O demônio não suporta a presença de Cristo; por isso, onde o Senhor está presente de modo especial, como na Eucaristia, pode ocorrer uma reação visível em quem sofre opressão ou possessão. Isso não depende da força do ministro, mas do poder de Cristo presente na Hóstia consagrada. Como essas manifestações podem ocorrer: reações físicas (agitação, gritos, desmaios súbitos); resistência ao aproximar-se do Santíssimo Sacramento e em alguns casos, palavras de blasfêmia ou tentativas de fuga”, detalhou o padre.
Conforme ele, não significa que a Eucaristia causa o mal — ao contrário, Cristo é sempre fonte de libertação. A reação acontece porque o inimigo é desmascarado pela presença do Senhor. Nem toda reação é possessão — pode ser de origem psicológica, emocional ou sugestão. Por isso a Igreja sempre recomenda discernimento cuidadoso, especialmente pelo exorcista da diocese.
“A atitude recomendada pela Igreja é não fazer “exorcismos improvisados” durante a Missa. O Ritual de Exorcismos é reservado a sacerdotes autorizados pelo bispo. Se os sinais forem graves e persistentes, encaminhar para avaliação pastoral especializada (exorcista ou equipe de discernimento, formada pelo exorcista, fiéis e profissionais da saúde mental)”, finalizou.






