Cátia Fonseca não é dançarina profissional. Não tem 25 anos, nem precisa provar nada a ninguém. É uma apresentadora consolidada, com carreira feita e público fiel. Mesmo assim, aceitou o convite para participar da “Dança dos Famosos”, um quadro que exige técnica, esforço físico e disposição para se expor diante do olhar implacável do público. E aí está o ponto: não é sobre dança. É sobre coragem.
Muitos telespectadores olham para Cátia e a julgam como se estivesse numa competição entre bailarinos de alto nível. Nas redes sociais, apontam falhas, tratam sua entrega como insuficiente e, pior, desqualificam sua presença no programa como se fosse uma ousadia fora de lugar. Mas será que cobrariam o mesmo de um homem na mesma situação?
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Rodrigo Faro, por exemplo, participa com seu próprio estilo e é visto como divertido, leve, jogando o jogo do entretenimento. Álvaro, jovem e cheio de energia, é celebrado pelo carisma e pela vitalidade. Já Cátia, por ser mulher e ter 56 anos, enfrenta um crivo muito mais duro. O que para eles é charme ou esforço, para ela vira “desempenho fraco” ou “falta de talento”.
Esse contraste escancara o quanto ainda somos reféns de uma lógica machista: homens podem ser medianos e serão lidos como engraçados, simpáticos ou esforçados; mulheres precisam ser impecáveis — e, mesmo assim, nunca basta.
O gesto de Cátia tem um valor que vai além da competição. Ao subir no palco e dançar, ela manda um recado direto para outras mulheres: a vida não acaba depois dos 50, não existe idade certa ou errada para se reinventar e se expor, e ninguém precisa pedir licença para ocupar um espaço.
E a trajetória dela no programa mostra isso com clareza. Mesmo depois de críticas duras, Cátia não desistiu. Está na repescagem, que será gravada nesta quinta-feira (28) e exibida no próximo domingo. Poderia ter recuado, mas não: escolheu continuar, mostrar resiliência e lembrar que fracasso não é cair, mas sim se negar a tentar de novo.
Por isso, quando a criticam com tanta severidade, não estão apenas falando de sua performance. Estão revelando a resistência que ainda temos em aceitar mulheres em papéis que fogem do esperado. Cátia, com sua presença, incomoda porque rompe a norma silenciosa que diz que mulheres, ao envelhecer, devem se recolher, não aparecer.
A “Dança dos Famosos” é entretenimento, mas a presença de Cátia nele é também ato político. Um lembrete de que cada vez que uma mulher se arrisca, experimenta, tenta algo novo, ela abre caminho para outras. No fundo, a crítica excessiva não diz nada sobre a dança dela. Diz muito sobre a sociedade que ainda insiste em querer que mulheres sejam invisíveis depois de certa idade.






