
Nesta quarta-feira (6), o Acre celebra os 123 anos da Revolução Acreana, movimento que consolidou a anexação do território ao Brasil no início do século XX. No centro dessa história está Plácido de Castro, personagem reverenciado como herói, mas que, segundo historiadores, era, acima de tudo, um homem comum, com virtudes, falhas e um forte espírito de liderança.
A origem da revolta
Em 6 de agosto de 1902, teve início a fase mais intensa da Revolução Acreana. Os conflitos vinham se arrastando desde o fim do século XIX, motivados principalmente pela disputa pelo látex, matéria-prima da borracha. Brasileiros — muitos deles nordestinos — que ocupavam a região desde a década de 1870 enfrentavam o governo boliviano, que detinha o controle legal sobre o território. A luta só terminou em 1903, com a incorporação definitiva do Acre ao Brasil.
Quem foi Plácido de Castro?
Natural de São Gabriel, no Rio Grande do Sul, Plácido de Castro seguiu carreira militar ainda jovem, motivado pela tradição familiar. Participou da Revolução Federalista (1893-1895), mas abandonou o Exército após a derrota do seu grupo. Desiludido, migrou para a Amazônia em busca de novas oportunidades durante o auge do ciclo da borracha.

No Acre, atuou como agrimensor e demarcador de terras, utilizando a formação técnica que obteve no Exército. Apesar de já estar na região, não participou dos primeiros movimentos de insurreição, como a proclamação do Estado Independente do Acre por Luís Galvez, em 1899. Ele só assumiu papel de liderança em 1902, quando aceitou comandar a revolta armada contra a Bolívia — com uma exigência: teria total autonomia, inclusive para aplicar penas de morte em caso de desobediência.
Plácido liderou a ofensiva contra o exército boliviano ao lado de seringueiros e com apoio de empresários do Amazonas. A tomada de Xapuri foi um dos momentos decisivos da Revolução. A partir dali, os combates se intensificaram, tornando essa a fase mais violenta do movimento. Segundo o historiador Marcus Vinícius Neves, até hoje não se sabe ao certo o número de mortos dos dois lados, devido à escassez de registros confiáveis.

Apesar da violência, a campanha militar foi bem-sucedida. Com ações ousadas e estratégias de guerrilha, Plácido de Castro conseguiu derrotar os bolivianos e garantir a incorporação do Acre ao território brasileiro.
Após a Revolução, Plácido ganhou prestígio e foi reconhecido por autoridades como o Barão do Rio Branco. No entanto, a política local continuou marcada por conflitos. O Acre virou território federal, e os governadores passaram a ser nomeados pelo governo central, o que causou atritos entre Plácido e os novos administradores.

Em 1908, ele foi vítima de uma emboscada quando se dirigia ao seu seringal, o Capatará. O assassinato teria sido encomendado por Gabino Besouro, então prefeito departamental, e executado por Alexandrino José da Silva, que havia servido sob seu comando durante a Revolução.
O legado
Apesar da morte trágica, Plácido de Castro continua sendo lembrado como um dos principais símbolos da história acreana. Para o historiador Marcus Vinícius, sua figura foi, ao longo do tempo, idealizada e muitas vezes descolada de sua realidade.
“Ele foi exaltado como herói, mas também era um homem do seu tempo, marcado pelo militarismo, autoritarismo e valores diferentes dos de hoje. Não era nem herói intocável, nem vilão. Era um homem complexo, como a própria história do Acre”, resume.
Mais do que apenas a conquista territorial, a Revolução Acreana deixou marcas profundas na identidade cultural do estado — marcas que ainda ecoam, 123 anos depois.






