O dinheiro e a fama no futebol criam um ambiente repleto de oportunidades e riscos. Entre viagens, contratos milionários e exposição pública, alguns jogadores se veem diante de escolhas que podem comprometer a vida pessoal e a carreira. O portal LeoDias ouviu Marcelo Lipatin, ex-jogador uruguaio e empresário; Matheus Albino, goleiro do CRB; e Franklyn Jeferson, psicólogo esportivo, para entender sob a lente da ciência e da experiência por que comportamentos extraconjugais e polêmicas sexuais são recorrentes no esporte mais popular do Brasil.
O peso do status e da experiência
Marcelo Lipatin, ex-atacante uruguaio com passagens marcantes por Grêmio e Coritiba e hoje CEO do Hope Internacional, analisa como fama e ascensão social precoce criam pressões únicas para o atleta. Ele explica o impacto das tentações e da exposição.
Veja as fotosAbrir em tela cheia Marcelo Lipadin na época em que atuava no GrêmioReprodução Matheus Albino, goleiro do CRBReprodução/Instagram/@n1glovesbrasil/@silvaphotoos Franklyn Jeferson, psicólogo esportivoReprodução/Instagram @franklynjeferson
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“A fama e a ascensão social acontecem muito cedo, e isso gera uma pressão que pouca gente consegue entender. A tentação está em todos os lugares, principalmente porque o jogador desperta interesse por tudo o que representa: dinheiro, poder e projeção social”, disse.
Lipatin também compartilha como a vida pessoal estruturada funciona como barreira contra distrações e assédios:
“Completei 25 anos de casado com a minha esposa Iane. Foi algo que desde o princípio já nos posicionou e nos protegeu para qualquer tipo de assédio ou propostas que fizessem a gente se distrair daquilo que fomos chamados.”
Sobre escolhas financeiras e disciplina na carreira, ele acrescenta: “‘O que é que nós vemos mais comum é essa distração com coisas fúteis que muitas vezes o atleta gasta para saciar o seu olhar ou mostrar algo que realmente não é necessário. Eu costumo dizer para os nossos atletas que temos que pensar para que o dinheiro trabalhe para nós.”
O olhar de quem vive o campo e a fama
Matheus Albino, goleiro do CRB e figura pública, detalha como se protege das tentações que surgem diariamente:
“‘As tentações existem, aparecem todos os dias. O jogador precisa ser consciente para não perder o foco. Quem não souber administrar pode ter a carreira e a vida pessoal prejudicadas.’”
Ele destaca a importância da família e das relações afetivas estáveis para manter equilíbrio emocional: “Quando temos a família por perto, ela se torna a nossa fortaleza. Esse é um valor muito forte em mim.”
Matheus também observa o comportamento de colegas que enfrentaram situações de interesse indevido: “Pessoalmente nunca passei por situações assim, mas tive amigos que acabaram se envolvendo em situações complicadas. O que tirei de lição é fortalecer cada vez mais os laços familiares e as verdadeiras amizades.”
Ele também reflete sobre como a exposição nas redes sociais e vida social podem afetar até mesmo o desempenho do atleta. “Saber o que postar, o momento certo, e estar com minha esposa e minhas filhas recarrega minha energia e me prepara para o próximo desafio”, conta.
A ciência por trás do comportamento
Franklyn Jeferson, psicólogo esportivo fundador da Rede Mente de Atleta e responsável pelo setor de psicologia do Falcon (Sergipe), explica como o ambiente do futebol influencia decisões pessoais e comportamentos de risco: “O comportamento extraconjugal em atletas resulta de uma interação complexa entre fatores contextuais, culturais e emocionais.”
Ele detalha os fatores do cotidiano que ampliam a exposição às tentações: “Viagens frequentes, longos períodos afastados da família, alta disponibilidade de parceiras sexuais, status associado à fama e pressão do grupo ampliam a probabilidade de envolvimento extraconjugal.”
Do ponto de vista neurocientífico, Franklyn esclarece: “O sistema dopaminérgico, responsável pelo circuito de recompensa do cérebro, responde de forma intensa a estímulos de novidade, prazer e reconhecimento social. Em situações de intensa excitação, a atividade do córtex pré-frontal, que é responsável pelo autocontrole, pode ser reduzida, levando o atleta a ceder a impulsos imediatos e desconsiderar consequências futuras.”
Ele também alerta sobre estereótipos e pressões sociais. “Muitos atletas, ainda em categorias de base, recebem referências sobre sexualidade de colegas, em um contexto no qual a cultura do adultério é normalizada. A masculinidade do jogador é constantemente questionada entre pares, reforçando pressões externas”, constata.
Prevenção e autocontrole
Franklyn conclui explicando como acompanhamento psicológico e disciplina pessoal podem equilibrar instinto e responsabilidade. “Quando o atleta aprende a gerir seus impulsos e tomar decisões alinhadas aos seus valores, ele reduz comportamentos disfuncionais e promove estabilidade emocional e melhor rendimento”, afirma.
A visão de Lipatin e Matheus reforça que mentoria, educação financeira e vínculos familiares fortes são ferramentas reais de proteção frente às pressões do ambiente esportivo.
Assim como na vida, o verdadeiro desafio no futebol é vencer a si mesmo
O que emerge é que a infidelidade ou comportamentos de risco no futebol não são simples escolhas morais: são o resultado de uma complexa interação entre cérebro, cultura e pressão social. O dilema de cada atleta envolve instinto, status e oportunidades constantes. A diferença entre se perder e se manter íntegro depende de suporte, autoconsciência e disciplina.
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