Em meio à campanha Setembro Amarelo, mês de prevenção ao suicídio, especialistas alertam para um fator crescente de risco à saúde mental: a hiperconexão digital. No mundo atual, o excesso de estímulos online e a pressão das redes sociais aumentam os riscos de sofrimento emocional, ansiedade e depressão.
Em entrevista ao portal LeoDias, a psicanalista Ana Tomazelli, presidente do Instituto de Pesquisa de Estudos do Feminino (Ipefem), cita pesquisa da USP com 503 estudantes de saúde em Alagoas, que mostrou maior ideação suicida entre os que reportaram dependência moderada ou grave da internet.
Veja as fotosAbrir em tela cheia Setembro Amarelo reforça necessidade de atenção ao tempo excessivo nas redes sociaisPexels Pexels Setembro Amarelo reforça necessidade de atenção ao tempo excessivo nas redes sociaisPexels Setembro Amarelo reforça necessidade de atenção ao tempo excessivo nas redes sociaisPexels
Voltar
Próximo
Leia Também
Saúde
Especialista explica relação entre superdotação e vícios após fala de Whindersson Nunes
Saúde
Karoline Lima relembra erro estético e médica alerta para riscos do excesso
Saúde
Rafa Kalimann desabafa e médica alerta para depressão na gestação e no pós-parto
“A tecnologia transformou profundamente nossa forma de nos relacionarmos, mas também trouxe novas formas de adoecimento. A dependência digital pode gerar isolamento, sensação de inadequação e dificuldade de elaborar frustrações. Precisamos aprender a diferenciar o uso saudável do uso compulsivo das redes, sob pena de comprometer seriamente a saúde mental”, afirma.
No Brasil, o tempo médio gasto online chega a 9 horas diárias, das quais 3h30 em redes sociais, colocando o país entre os líderes mundiais em consumo digital – ficando atrás apenas de Quênia e África do Sul, conforme dados do relatório “Digital 2024: a 5 Billion Social Media Users”. Esse comportamento é particularmente preocupante entre jovens, grupo mais vulnerável aos impactos emocionais da hiperconexão.
“A gente pode identificar dois grandes grupos de sintomas, mas o primeiro grupo, que eu chamo de sintomas analógicos, é quando, na convivência diária, você não consegue fazer mais nada sem pensar na mediação digital. Você está com amigos ou família, mas tudo precisa ser filmado, registrado, transformado em conteúdo. Outra coisa é produzir na vida analógica momentos de afeto ou anedotas apenas para gerar material que será postado, independentemente de trabalhar com internet ou não”, explica Ana.
O segundo grupo, de acordo com ela, são os sintomas digitais. “Você posta algo e, se não tem muitas curtidas ou interação, ou se uma pessoa específica não interage, isso te causa angústia. Muitas pessoas ficam olhando as visualizações de stories para ver se certas pessoas também estão assistindo. Isso marca as relações afetivas e até relações de inimizade. Esses sintomas indicam que a relação está deixando de ser saudável e se tornando mais patológica”, salienta.
“E eu colocaria também um terceiro ponto fora desses dois grandes grupos que é a aritmética do tempo mesmo. Então quanto tempo você passa online […] quanto tempo você passa offline no analógico, como eu prefiro chamar. Esse seria um terceiro sintoma para você verificar a questão de ser saudável ou não”, completa.
Sintomas semelhantes aos da dependência química
O uso excessivo de tecnologia pode levar a sintomas semelhantes aos da dependência química, incluindo alterações de humor, ansiedade, depressão, dificuldade de concentração e alterações no sono. O estudo O impacto da Tecnologia na Saúde Mental mapeou 13 transtornos ligados ao uso abusivo de dispositivos, como FOMO, Nomofobia, Phubbing, Náusea Digital, Depressão do Facebook, Selfitis e Fadiga de Decisão Digital.
Esse cenário se agrava quando observamos que o Brasil é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) o país com o maior número absoluto de pessoas que convivem com transtornos de ansiedade: cerca de 18,6 milhões, o que representa aproximadamente 9,3% da população.
“As que eu considero mais comuns hoje em dia, são a Fadiga de Decisão Digital, Náusea Digital, Phubbing e Nomofobia. Basicamente, esses quatro transtornos possuem uma transversalidade: colocar o celular no centro das suas decisões de vida, trazendo desconforto físico”, afirma. “Nosso corpo não foi criado fisicamente para ver luz azul. Não conseguimos acompanhar a velocidade de um feed rolando. Os estímulos visuais e auditivos ficam hiperestimulados, enquanto os outros sentidos ficam atrofiados”, acrescenta.
Relação saudável com dispositivos
Sobre como pais e educadores podem ajudar jovens a desenvolver relação saudável com dispositivos, Ana pontua: “Primeiro, eles mesmos precisam ter uma relação saudável com as redes sociais. Depois, abrir espaço para dialogar com os jovens, ouvindo-os em vez de apenas dar ordens. Perguntar o que eles buscam, o que gostam de ver e consumir é fundamental. Por exemplo, meu filho mais novo gosta de vídeos de receitas, exercícios físicos e memes de bichinhos no TikTok. Essas conversas devem ser constantes”.
Para menores de idade, ela reforça monitoramento e limites. “Meu primeiro filho teve o celular aos 14 ou 15 anos e o mais novo aos 13 ou 14, considerado tarde para o padrão atual. Aplicamos bloqueios, com participação do pai que entende de tecnologia, e o principal é manter conversas abertas do tipo: ‘Se alguém desconhecido puxar papo, não clique nem acredite em nada e conte para a gente’. De modo geral, é uma alfabetização digital constante, que envolve diálogo, atenção e limites”, finaliza.






