10 dezembro 2025

Estudo aponta que há mais jovens com obesidade do que desnutridos; especialistas explicam

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Segundo um estudo recente da Unicef, há mais jovens com obesidade do que desnutridos no mundo. O portal LeoDias conversou com duas especialistas para entender os desafios da obesidade juvenil.

Segundo a endocrinologista Dra. Marília Fonseca, diretora da área médica da Novo Nordisk no Brasil, o maior desafio para o combate da obesidade juvenil é o estigma: “A obesidade ainda é vista por muitos como uma falha de caráter ou falta de força de vontade, e não como doença crônica, complexa e multifatorial que de fato é. Esse preconceito impede que pais e jovens busquem ajuda médica qualificada, atrasando o diagnóstico e o tratamento”.

Veja as fotosAbrir em tela cheia Unicef diz que há mais jovens com obesidade do que desnutridos.Foto: Pexels Unicef diz que há mais jovens com obesidade do que desnutridos.Foto: Pexels Unicef diz que há mais jovens com obesidade do que desnutridos.Foto: Pexels

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Adriane Dias, nutricionista e colunista no portal LeoDias, diz que o desafio é estrutural: “Hoje, o ambiente alimentar em que esses jovens estão inseridos favorece muito mais o consumo de ultraprocessados do que de alimentos frescos. São produtos baratos, práticos, cheios de publicidade direcionada, e que acabam competindo de forma desigual com frutas, verduras e legumes. Além disso, temos o sedentarismo, que cresceu bastante com o aumento do tempo em frente às telas e a falta de espaços adequados para prática de atividade física”.

Outro ponto, segundo Adriane, é a desigualdade social: “Famílias com menor renda têm mais dificuldade de acesso a opções saudáveis, e muitas vezes recorrem ao que é mais barato, mesmo que menos nutritivo. E não podemos esquecer a falta de educação alimentar e nutricional nas escolas e no dia a dia, que deveria ser fortalecida para dar mais autonomia a crianças e adolescentes na hora de escolher o que comer”.

Segundo o estudo da Unicef, o número de jovens com obesidade triplicou desde 2000. Marília explica que isso é resultado de uma combinação de fatores: “As causas são uma combinação de fatores genéticos, metabólicos e, principalmente, ambientais. A mudança no padrão alimentar, com o aumento do consumo de produtos de baixo valor nutritivo, e a redução drástica da atividade física, muito em função do tempo de tela, são os principais motores dessa epidemia. Para os pais, o primeiro passo é deixar de lado a culpa e buscar informações de qualidade, promovendo um ambiente saudável, que inclua uma alimentação equilibrada e a prática regular de atividades físicas, além de um diálogo aberto e empático com os filhos. É fundamental também o acompanhamento médico: a obesidade é uma doença e requer acompanhamento médico, que deve também incluir também uma equipe multidisciplinar, com nutricionistas e psicólogos”.

Adriane afirma que o aumento de alimentos ultraprocessados é um grande fator: “O que explica esse aumento é a transição alimentar que o Brasil viveu nas últimas décadas. Nossa dieta tradicional, baseada em arroz, feijão, legumes, frutas e preparações caseiras, foi sendo substituída por alimentos ultraprocessados, ricos em açúcares, sódio e gorduras de baixa qualidade. Essa mudança, associada a um estilo de vida mais sedentário, cria um cenário perfeito para o crescimento da obesidade. Para os pais, o caminho não é proibir, mas sim educar e dar o exemplo. A alimentação saudável precisa começar dentro de casa: cozinhar mais, oferecer opções naturais, envolver as crianças no preparo das refeições e mostrar que comer bem pode ser prazeroso. Também é fundamental estimular a prática de atividade física, seja através de esportes, brincadeiras ao ar livre ou até caminhadas em família. E, acima de tudo, lembrar que os pais são modelos e a forma como eles comem e se relacionam com a comida vai impactar diretamente os filhos, não existe tratamento de obesidade infantil sem o apoio dos responsáveis e sem que toda a casa que aquela criança reside embarque nessa jornada junto”.

Ela também dá dicas de como o indivíduo pode auxiliar sua comunidade a combater a desnutrição: “Como comunidade, podemos contribuir de várias formas, uma delas é apoiar iniciativas que garantem acesso a alimentos de in natura ou minimamente processados, como doações a bancos de alimentos, cozinhas e hortas comunitárias. Também é possível ajudar no combate ao desperdício, com receitas que utilizam o alimento de forma integral, como panqueca verde feita com talos, cozinhar a folha da beterraba, receitas com casca de banana entre outras milhares de ideias. Outro ponto importante é valorizar os pequenos produtores e feiras locais, que tornam o alimento fresco mais acessível. E, claro, precisamos apoiar políticas públicas que fortaleçam a segurança alimentar, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar, que é essencial para muitas crianças e muitas vezes, a única alimentação que ela terá no dia”.

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