O ativista ambiental e seringueiro Raimundo Mendes de Barros, 71 anos, conhecido como Raimundão e primo do lendário Chico Mendes, encontra-se internado no Hospital de Xapuri, no Acre, lutando contra uma grave infecção pulmonar. Seu estado de saúde é delicado, associado a uma doença crônica desenvolvida por anos de exposição à fumaça em defumadeiras de látex – técnica tradicional de beneficiamento da borracha –, somada ao histórico de tabagismo.
Em entrevista ao g1, Ronaira Barros, filha do ativista, detalhou a situação. “Ele tem falta de ar e precisa fazer uso de oxigênio”, contou. Ela também relacionou o agravamento do quadro a outra exposição perigosa do passado: “Ele também trabalhou na Sucam [Superintendência de Campanhas de Saúde Pública], e mexeram com aquele veneno DDT [Dicloro-Difenil-Tricloroetano], uma das coisas mais prejudiciais pro pulmão dele. Ele fez vários exames e foi detectada infecção no pulmão esquerdo; metade do pulmão dele praticamente não tem funcionamento”.
Na quarta-feira (25), a família usou as redes sociais para atualizar amigos e apoiadores sobre o estado de saúde de Raimundão. Em um vídeo emocionante publicado online, o próprio seringueiro, mesmo fragilizado, enviou uma mensagem de esperança. “Estou aqui recuperando, meus queridos e minhas queridas. Espero ainda ter uma vida longa junto com vocês, para a gente produzir mais algumas coisas e, se for possível, vocês aprenderem também mais algumas coisas comigo. Espero que essa ainda não seja o fim da minha existência. Um abraço para vocês e vamos em frente”, declarou.
Histórico de luta e legado
Raimundão não é apenas um seringueiro; é um símbolo de resistência. Ele e Chico Mendes foram companheiros de lutas históricas pela preservação da Floresta Amazônica, confrontando-se diretamente com fazendeiros e grileiros que promoviam desmatamento para expandir a agropecuária na região. Após o assassinato de Chico Mendes, em dezembro de 1988, Raimundão assumiu a dianteira na mobilização, tornando-se uma voz ativa e constante na conscientização e na organização de seringueiros, ribeirinhos e povos da floresta.
Sua atuação foi fundamental na criação de uma das primeiras reservas extrativistas do Brasil, a Reserva Extrativista Chico Mendes, estabelecida em 1990. De acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a unidade abrange uma área de aproximadamente 931 mil hectares na Amazônia e é lar de mais de 3 mil famílias que dependem do extrativismo sustentável para viver.
Ameaças recentes
A trajetória de resistência de Raimundão tem um custo. Em junho deste ano, durante a Operação Suçuarana do Ibama de combate a crimes ambientais, ele foi alvo de uma série de ameaças. Produtores rurais da região, insatisfeitos com a ação fiscalizatória, organizaram protestos e usaram as redes sociais para fazer acusações e ameaças diretas contra o ativista, que se tornou alvo por sua defesa intransigente da Amazônia.
Na ocasião, o Comitê Chico Mendes, organização gerida pela família de Chico Mendes, emitiu uma nota oficial repudiando veementemente as intimidações sofridas por Raimundão e exigindo proteção para o líder seringueiro.







