Opinião: A força de Odete não pode apagar o protagonismo de Raquel em “Vale Tudo”

Opinião: A força de Odete não pode apagar o protagonismo de Raquel em “Vale Tudo”

Na última sexta-feira (26), a autora Manuela Dias causou polêmica ao repostar uma foto Odete Roitman (Débora Bloch) de “protagonista” de “Vale Tudo”. O comentário não passou batido: o público reagiu lembrando que a verdadeira protagonista sempre foi Raquel, hoje interpretada por Taís Araujo.

É claro que ninguém aqui discute a dimensão de Odete Roitman. A vilã é antológica, emblemática, um dos maiores ícones da teledramaturgia brasileira. Ela tem, sim, um protagonismo dentro da trama — mas isso nunca apagou o fato de que Raquel é a heroína da história. Na versão original, mesmo com o sucesso estrondoso de Beatriz Segall, Regina Duarte nunca perdeu espaço como a protagonista. E é exatamente isso que torna inadmissível ver a Raquel de Taís Araujo sendo esvaziada em 2025.

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Não foi por acaso que a própria atriz trouxe à tona a questão em entrevista. Taís apenas disse em voz alta o que o público já percebia: a trajetória de Raquel perdeu força, principalmente depois de uma reviravolta que a fez voltar à pobreza, algo que não acontecia no original. O gesto da autora, portanto, parece apenas reforçar essa desvalorização.

E não é a primeira vez. Em “Amor de Mãe”, também de Manuela Dias, a personagem de Taís — Vitória — começou como uma advogada poderosa e independente, mas foi reduzida a um arco de empobrecimento e perda de centralidade. A atriz já havia manifestado incômodo naquela época, enxergando nisso um padrão problemático.

O debate não é sobre diminuir Odete Roitman. É sobre entender que reconhecer a força de uma vilã não significa apagar a protagonista. E quando a protagonista é vivida por uma atriz negra, esse apagamento ganha contornos ainda mais graves, porque toca diretamente em questões de representatividade.

O público sabe — e lembra — que Raquel é a verdadeira protagonista de “Vale Tudo”. Se em 1988 isso não foi problema, não faz sentido que em 2025, com todo o avanço das discussões sobre protagonismo e diversidade, Taís Araújo tenha sua personagem enfraquecida no enredo e até na fala da própria autora.

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