7 dezembro 2025

Opinião: Globo aposta todas as suas fichas no sertanejo para reconquistar público afastado

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A Globo vem desenhando uma estratégia clara: aproximar-se do universo sertanejo. A movimentação é visível em três frentes: a encomenda da novela “Coração Acelerado”, escrita por Isabel de Oliveira e Maria Helena Nascimento, a estreia do documentário “Vida de Rodeio”, em outubro, e a escolha de Michel Teló como mentor do reality “Estrela da Casa”. Não se trata apenas de uma coincidência de projetos, mas de um esforço deliberado da emissora para dialogar com um público específico.

O sertanejo, hoje, não é só um gênero musical. É um ecossistema cultural e econômico que movimenta milhões de reais em shows, rodeios, festas regionais e consumo associado. É também, nos últimos anos, um marcador de identidade política. Pesquisas eleitorais e de opinião mostraram que parte considerável desse público se alinhou à direita e ao bolsonarismo, justamente em um período em que a Globo foi duramente criticada e perdeu relevância junto a esse eleitorado.

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Ao apostar em “Coração Acelerado” — novela que vai girar em torno de duas cantoras em busca de espaço no sertanejo — e em “Vida de Rodeio” — doc que acompanha montarias em touros e a vida de competidores —, a emissora sinaliza que quer mais do que audiência: quer resgatar um vínculo cultural com esse espectador. O movimento é reforçado pela presença de Michel Teló, um dos nomes mais fortes do sertanejo universitário, no “Estrela da Casa”.

O raciocínio estratégico é simples: trata-se de um público com dinheiro, capaz de movimentar mercados inteiros, e que hoje consome muito conteúdo fora da TV aberta, seja em plataformas digitais ou em veículos considerados mais “simpáticos” às suas visões. Reconquistar essa audiência é fundamental para manter a faixa das sete competitiva e garantir que a Globo continue sendo vista como um canal de relevância nacional, e não apenas como vitrine das grandes cidades ou de segmentos mais progressistas da sociedade.

Há também um fator simbólico. Aproximar-se do sertanejo é, de certa forma, sinalizar um gesto de reconciliação com um Brasil que se distanciou da emissora nos últimos anos. A Globo não vai assumir isso em voz alta, mas a escolha de narrativas, personagens e produtos aponta para um realinhamento cultural. O que está em jogo não é apenas audiência, mas a capacidade da emissora de manter-se conectada a diferentes identidades do país.

Se a estratégia vai funcionar, só o tempo e os índices dirão. Mas é inegável que a Globo decidiu apostar alto: em vez de ignorar o público sertanejo, ela resolveu falar diretamente com ele — e em sua própria linguagem.

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