A Copa do Mundo de 2026 se aproxima sob um formato inédito, com 48 seleções e 104 partidas distribuídas entre Estados Unidos, México e Canadá. A expansão promete democratizar o futebol, dando espaço a países antes ausentes do torneio, mas também levanta questionamentos sobre a qualidade técnica e a identidade cultural do esporte. Entre oportunidades e riscos, a competição se apresenta como um teste para medir até que ponto o futebol globalizado pode equilibrar inclusão e excelência.
Expansão e debates técnicos
A ampliação do torneio suscitou debates entre técnicos e especialistas. Ao mesmo tempo em que a expansão desperta entusiasmo em parte do meio esportivo, ela também gera apreensão. O ex-presidente da Fifa, Joseph Blatter, que comandou a entidade por quase duas décadas, classificou a atual linha de gestão como “uma comercialização excessiva do jogo, tentando espremer cada vez mais o limão”, em entrevista reproduzida por veículos como UOL e TN Online. Para ele, o futebol corre o risco de perder o que o tornava universal justamente por querer ser global demais.
Veja as fotosAbrir em tela cheia Taça da Copa do MundoReprodução Reprodução Pogba, Toni Kross, Xavi, Del Pierro, Kaká, Zidane e CafúReprodução/X: @adidasfootball
Voltar
Próximo
Leia Também
Esportes
“Hoje é difícil imaginar o Brasil campeão da Copa”, diz Ronaldo sobre Seleção
Esportes
“O Brasil está carente de um camisa nove”, diz Túlio Maravilha
Esportes
“Treinar a Seleção Brasileira não é qualquer coisa, é histórico”, diz Carlo Ancelotti
Esportes
26 vagas, 46 candidatos: como está a disputa por vaga na Seleção para a Copa do Mundo?
A crítica ao inchaço do calendário e à exaustão dos atletas também é compartilhada por outros nomes de peso. Em abril de 2023, o técnico Roberto Mancini, então comandante da Itália, afirmou à AFP que o aumento de participantes “risca exaurir os jogadores de alto nível” e que, em vez de ampliar o torneio, precisa mesmo é de uma redução para que os jogadores de elite possam respirar um pouco. A declaração ecoa uma preocupação crescente entre os treinadores europeus, que veem na sobrecarga física e emocional uma ameaça à qualidade técnica das grandes competições.
Na contramão dessas críticas, o atual presidente da Fifa, Gianni Infantino, insiste que a ampliação é o caminho certo. Em declaração pública, publicada em veículos como The Guardian e ESPN, ele defendeu que “com 48 países participando desta Copa do Mundo, será algo incrível” e que “não há nada maior, em termos de impulsionar o futebol em um país, do que participar de uma Copa do Mundo”. Segundo ele, o formato ampliado permitirá que novas nações experimentem o impacto social e esportivo do torneio, fortalecendo o desenvolvimento global do jogo.
Democratização x qualidade
Mas nem mesmo dentro da estrutura da Fifa há consenso. O presidente da Confederação Asiática de Futebol, Sheikh Salman bin Ibrahim Al Khalifa, afirmou ao Morocco World News que “pessoalmente, não concorda” com novas expansões e alertou: “Se essa questão permanecer aberta, alguém poderá pedir 132 seleções. Aonde vamos parar? Viraria um caos.” O contraste entre visões evidencia o dilema que acompanha a globalização do futebol: onde termina a inclusão e começa a diluição?
Enquanto a ampliação é vista como uma oportunidade de democratizar o futebol, dando espaço para seleções menores, a crítica é de que isso pode comprometer o equilíbrio técnico da competição. Especialistas alertam que a diferença entre equipes tradicionais e emergentes pode gerar partidas desiguais, levantando a questão: mais seleções significam mais chances ou apenas mais saturação?
Impacto comercial e visibilidade global
O torneio triplo representa uma expansão estratégica do futebol nas Américas do Norte e Central, com repercussões comerciais significativas. A Copa de 2026 é a primeira organizada por três países, o que amplia receitas com bilheteria, patrocínios e direitos de transmissão. Ao mesmo tempo, a exposição global aumenta a pressão sobre as seleções, que precisam alinhar desempenho esportivo e marketing.
A Copa do Mundo de 2026 poderá ser a maior da história, e talvez também a mais controversa. O torneio que promete democratizar o futebol pode, paradoxalmente, transformar o espetáculo em um produto saturado. As recentes declarações de Carlo Ancelotti, técnico da Seleção Brasileira, serviram como ponto de partida para essa reflexão. O italiano afirmou à Fifa que espera uma competição “cada vez mais global” e “muito equilibrada, com seleções ótimas e os melhores jogadores”, ressaltando que o novo formato pode ampliar o alcance do futebol no mundo.
Homogeneização do estilo de jogo
A globalização do futebol intensifica a adoção de modelos táticos europeus, criando uma padronização de estilo em muitas seleções. Embora isso facilite o acompanhamento do esporte para torcedores e analistas, há preocupação com a perda de características locais, culturais e históricas que moldam a identidade de cada país dentro do futebol.
Perspectiva brasileira
Para seleções como o Brasil, o debate tem um peso simbólico. Há 24 anos sem erguer a taça, o país chega ao Mundial sob o comando de Ancelotti, que reconhece a “grande responsabilidade de fazer o Brasil voltar a vencer”. Mas a missão do treinador vai além de resultados: será testar se ainda é possível preservar a alma do futebol em meio à industrialização do espetáculo.
Para o Brasil, a Copa de 2026 representa tanto desafio quanto oportunidade. Ancelotti enfatizou que “tudo que os brasileiros querem é voltar a ganhar” e que sua experiência no Real Madrid permitiu trazer uma abordagem de trabalho europeu. A seleção entra no torneio com a expectativa de equilibrar tradição, talento globalizado e pressão por resultados imediatos.
Quanto menor a expectativa, maior o poder do que surpreende
A Copa de 2026 pode nascer com o risco do inchaço técnico, devido excesso de jogos e saturação. O novo formato parece projetado para diluir o encantamento que antes era raro e intenso. Com tantas seleções e um número crescente de confrontos, é fácil prever um Mundial arrastado, repleto de duelos previsíveis e de equipes que parecem apenas participar de um espetáculo que não lhes pertence.
Mas é justamente aí, no terreno do improvável, que mora a chance de um novo fascínio. Porque quando a lógica parece dominada, o imprevisto ganha força. E se, entre tantas partidas, surgir uma história que ninguém esperava? Uma zebra épica, um talento anônimo, uma seleção que se reinventa. É aí que esse excesso poderá se transformar em potência.
Talvez o encanto do futebol esteja justamente nisso: na possibilidade de que o banal se torne lendário. De que, no meio do ruído e da repetição, uma faísca ainda acenda algo que ninguém previu. A Copa que muitos temem ser a mais saturada pode acabar sendo a mais humana. Aquela que, ao perder o controle, reencontra o próprio sentido de maravilhar.
A Copa de 2026 será, portanto, um laboratório da imprevisibilidade. Num torneio com tantas seleções e cenários improváveis, o risco de saturação pode se converter em uma reinvenção do próprio encanto. O que hoje parece excesso pode, nas histórias que escapam do roteiro, devolver à Copa o que ela tem de mais valioso: o poder de surpreender o mundo quando o mundo já acredita ter visto de tudo.
Transforme seu sonho com a força do esporte. Aposte agora na Viva Sorte! Acesse clicando aqui!






