7 dezembro 2025

Metanol em destilados: especialista explica riscos, sintomas e como evitar intoxicação

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Segundo balanço da Secretaria estadual da Saúde divulgado na tarde desta sexta-feira (31/10), o número de notificações de intoxicação por metanol subiu para 102 no estado de São Paulo. As notificações incluem casos confirmados e suspeitos, além de mortes. Em entrevista ao portal LeoDias, Alexandre Gomes de Brito, professor de Química do Colégio Católica Brasília, explica o que é o metanol e por que ele aparece na destilação de bebidas alcoólicas.

“O metanol é um tipo de álcool, porém mais tóxico que o etanol, que é o álcool das bebidas. Ele está presente em pequenas quantidades como subproduto da degradação da pectina (um tipo de carboidrato complexo), contida nas cascas das frutas. Durante a destilação, ele evapora antes do etanol, o que pode resultar em contaminação se não for devidamente separado. A fração inicial da destilação, chamada de ‘cabeça’, contém maior concentração de metanol, e, se não descartada corretamente, pode contaminar a bebida final, tornando-a perigosa para a saúde”, diz.

Veja as fotosAbrir em tela cheia São Paulo registra mortes e casos graves por ingestão de bebidas adulteradas com metanolReprodução: Internet Intoxicação por metanol ascende alerta em São PauloDivulgação: Fiocruz Imagens A substância estaria sendo utilizada na produção de bebidas falsificadasReprodução/Canva Intoxicação por metanol ascende alerta em São PauloDivulgação: Biodiesel Brasil

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O professor esclarece a diferença entre a presença natural do metanol em vinhos e cervejas e a concentração em destilados: “O metanol está presente naturalmente em todas as bebidas alcoólicas, mas em concentrações muito baixas, como em vinhos e cervejas. Nessas bebidas, a quantidade de metanol é segura para o consumo. Porém, na destilação, o metanol é concentrado, especialmente na fração inicial do processo. Se não for removido corretamente, ele pode se acumular em quantidades perigosas, tornando a bebida alcoólica tóxica. Isso acontece porque a destilação separa o metanol do etanol, o álcool consumido, concentrando-o em uma parte do destilado”.

Segundo Alexandre, o metanol é tóxico para o consumo humano porque, ao ser metabolizado, é convertido em formaldeído (formol) e ácido fórmico, substâncias altamente nocivas que afetam principalmente o sistema nervoso central, causando dor de cabeça, tontura e visão embaçada. “Em doses maiores, o formaldeído pode danificar órgãos vitais como o fígado, rins e olhos, e o ácido fórmico pode causar acidez sanguínea (acidose), levando à falência de múltiplos órgãos e, em casos graves, à morte”, fala.

Saiba identificar produtos adulterados
O especialista explica como os produtores de bebidas identificam e separam o metanol do etanol durante a destilação: “Eles controlam a temperatura durante a destilação, já que o metanol evapora a uma temperatura mais baixa (64,7°C) que o etanol (78°C). No início da destilação, a ‘cabeça’ (primeiras frações) contém mais metanol, que é descartado. Depois, o etanol começa a ser coletado. As últimas frações, chamadas ‘cauda’, também são descartadas. Essa separação garante que o produto final seja seguro para o consumo”.

O professor destaca ainda que a fase da destilação com maior concentração de metanol é a “cabeça”, que deve ser cuidadosamente monitorada e descartada. “Durante essa fase, o metanol, que tem um ponto de ebulição mais baixo, evapora primeiro. Para controlar isso, os destiladores monitoram a temperatura e descartam as primeiras frações de destilado, onde o metanol está concentrado”, fala.

Sobre o destino do metanol descartado, Alexandre explica: “O metanol é poluente, e seu descarte deve ser feito de maneira controlada. Em muitos casos, ele não é simplesmente jogado fora, mas tratado adequadamente para evitar danos ao meio ambiente. Isso pode incluir processos de neutralização ou tratamento em estações de tratamento de águas residuais”.

E completa: “Além disso, como o metanol tem várias aplicações industriais, ele pode ser reciclado ou reaproveitado para outros usos, como solventes ou combustível, dependendo das normas ambientais locais. O objetivo é minimizar o impacto ambiental e garantir que o processo seja seguro”.

Ele também esclarece como a análise laboratorial diferencia destilados legítimos de adulterados com metanol. “Técnicas como a cromatografia gasosa e a espectrometria de massa são usadas para separar e detectar o metanol, que tem uma estrutura química e características físicas diferentes do etanol. Esses métodos permitem identificar o metanol com precisão, mesmo em pequenas quantidades, garantindo que o produto seja seguro para consumo”, salienta.

Como evitar a contaminação
Para evitar contaminação, Alexandre destaca que o produtor deve controlar a temperatura, descartar as primeiras frações e treinar a equipe. “As primeiras frações destiladas devem ser descartadas, pois são ricas em metanol. O uso de equipamentos adequados e a destilação precisa também são essenciais. Além disso, é importante monitorar constantemente a bebida durante o processo e treinar a equipe para garantir o manuseio correto e seguro, assegurando que o produto final seja seguro para consumo”, diz.

Por fim, o professor orienta os consumidores sobre como se proteger de bebidas contaminadas: “É importante comprar produtos de marcas confiáveis e estabelecimentos legais. Evite bebidas caseiras ou de origem desconhecida, que apresentam maior risco. Além disso, ao consumir, fique atento a sintomas como dor de cabeça intensa, tontura ou visão embaçada, que podem indicar intoxicação. Bebidas com cheiro ou aparência estranha também devem ser descartadas. A melhor forma de se proteger é sempre escolher produtos de fontes seguras”.

Balanço apresentado pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha
Na última quinta-feira (2/10), o Ministério da Saúde informou que o Centro Nacional de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS) registrou 60 notificações de suspeita de intoxicação por metanol no Brasil. Entre os investigados, está o do rapper Hungria, no Distrito Federal.

O balanço foi apresentado pelo ministro Alexandre Padilha, em entrevista à imprensa na Sala de Situação, instalada pelo governo para monitorar os casos e coordenar as medidas de resposta. Até o momento, uma morte, em São Paulo, foi confirmada como causada pela intoxicação e outras sete estão em investigação – cinco em SP (três na capital e dois em São Bernardo) e duas em Pernambuco.

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