A tecnologia já atravessa todas as esferas da vida cotidiana e, na educação, o uso deixou de ser opcional. Ainda que parte da sociedade a veja como ameaça, especialistas defendem que ela pode ser uma aliada estratégica para ampliar oportunidades, diversificar metodologias e apoiar professores e estudantes na construção da aprendizagem.
Inclusive, para Iolanda França, especialista em inovação educacional e integrante de projetos que aproximam tecnologia da Educação Básica, a inteligência artificial (IA) amplia a visão do professor, pois automatiza tarefas burocráticas, desafogando as demandas, e permite foco maior na mediação pedagógica.
França destacou ainda que ferramentas de inteligência artificial já permitem identificar potenciais, dificuldades e ritmos próprios de cada estudante. Por isso, o uso da IA pode ser uma ajuda no processo de adaptação das metodologias às necessidades individuais, o que incide no combate à desigualdade de aprendizagem.
“Uma forma da gente combater a desigualdade é justamente a personalização do ensino. É quando a gente consegue olhar para o estudante e perceber o que ele precisa, quais os potenciais que ele tem e como posso ajudá-lo a atingir o que necessita”, afirmou.
As observações foram feitas durante o Talk Educação do Amanhã, promovido nessa segunda-feira, 17 de novembro, no Sesi Lab, em Brasília. Iniciativa do Metrópoles, com oferecimento da One School e do Serviço Social do Comércio no Distrito Federal (Sesc-DF), além do apoio do Sigma e do Galois, o evento reuniu os especialistas Iolanda França, Fernando Trevisani e Ana Dal Fabbro no primeiro painel, sob a mediação da jornalista Cibele Moreira, para um debate acerca do uso consciente, inclusivo e pedagógico dessas tecnologias.
França destacou, porém, que a personalização só será efetiva se vier acompanhada de formação docente robusta, que prepare os professores para usar tecnologia de forma crítica e ética.

Ensino híbrido e autoria docente
A formação de professores capacitados foi o pilar essencial defendido durante o painel e o eixo central das ponderações de Fernando Trevisani, doutor em Metodologias Ativas e Inteligência Artificial.
Organizador do livro “Ensino Híbrido: personalização e tecnologia na educação”, Trevisani explicou como a IA pode apoiar o professor na construção de planos de aula alinhados ao ensino híbrido, combinando o melhor do presencial e do digital para criar experiências mais dinâmicas e flexíveis.
Ele ressaltou que os resultados da IA são tão bons quanto as informações fornecidas a ela. Por isso, reforçou a necessidade de o professor explicitar o repertório para evitar respostas genéricas. Isso é, inserindo no pedido à IA as vivências, o perfil da turma, os desafios identificados e o contexto pedagógico.
“Às vezes o professor pede: ‘quero criar um plano de aula sobre frações para o sétimo ano’, e a IA traz algo comum. Mas, esquecemos que temos anos de experiência que podem e devem ser mencionados”, explicou.

Escolas conectadas e cidadania digital
Agregando a experiência em políticas públicas ao painel, a coordenadora-geral de Tecnologia e Inovação na Educação Básica do Ministério da Educação (MEC), Ana Dal Fabbro, apresentou os princípios que orientam a Estratégia Nacional Escolas Conectadas (Enec), lançada em 2023.
A política busca garantir que estudantes e professores tenham acesso pleno à cidadania digital, tanto ao possibilitar o uso pedagógico de ferramentas tecnológicas quanto ao desenvolver a compreensão crítica sobre como elas funcionam e impactam a vida cotidiana.
A estratégia, além de expandir o acesso à internet de qualidade nas escolas, mira a formação de cidadãos capazes de entender conceitos como algoritmos, pensamento computacional e cultura digital, para que esses alunos possam navegar de forma segura e consciente no ambiente on-line.
Para exemplificar iniciativas que já mostram resultados, Ana mencionou experiências de diferentes regiões do país. O Piauí, por exemplo, implementou uma disciplina de inteligência artificial no Ensino Médio, com abordagem crítica e contextualizada.
No Pará, centros de inovação integram tecnologia e sustentabilidade enquanto a Bahia tem avançado na educação midiática dentro das escolas.

Os especialistas reforçaram que, mesmo com o avanço acelerado das tecnologias, há espaço para o equilíbrio entre inovação e intencionalidade pedagógica, sobretudo quando alinhadas à responsabilidade na formação dos alunos.
Assista o talk completo:






