O Ibovespa da B3, o mais importante indicador do desempenho médio das cotações das ações negociadas na bolsa de valores do Brasil, atingiu, na última semana, a marca de 157.748,60 pontos. Este é mais um dos recordes sucessivos da bolsa brasileira, consolidando a maior sequência de altas consecutivas desde 1994. Em paralelo, o dólar comercial recuou para cerca de R$ 5,27, atingindo seu menor patamar desde junho de 2024. Os dois movimentos podem parecer contraditórios, mas diversos fatores domésticos e internacionais se alinharam para gerar tal efeito.
Segundo o economista Roberto Luís Troster, alguns dos principais motores são os cenários externo, com bolsas subindo, e interno, diante da inflação mais baixa: “Foi uma conjugação de fatores. Primeiro, no cenário externo, as bolsas lá fora estão subindo muito, especialmente com a taxa de juros americana caindo um pouco, e a expectativa é de que caia mais. Quanto mais baixas as taxas de juros, mais alta a bolsa”, explicou o especialista ao portal LeoDias.
Veja as fotosAbrir em tela cheia O Ibovespa é o principal indicador de desempenho das ações negociadas na B3Foto: Michel Corvello/MT Moeda brasileira e americanaDivulgação: Agência Brasil/Arquivo Bolsa de Valores brasileiraFoto: Kevin David/A7 Press/Agência O Globo Bolsa de valores é o mercado onde acontece a negociação de ações e de diferentes tipos de ativos financeirosReprodução: Internet Sede do Federal Reserve Bank (Fed), o banco central americanoDivulgação: Site Oficial do Federal Reserve Bank
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No âmbito doméstico, dados recentes mostram uma expectativa crescente de corte da taxa básica de juros no Brasil: “A inflação abaixo das projeções, o que é muito bom; dólar mais fraco, também é muito bom; lá fora, o preço do petróleo e das commodities caindo, o que também é muito bom. Então, nós temos um cenário positivo, que explica esses números”, afirmou. A situação significa que as empresas brasileiras estão sendo vistas como mais lucrativas, com menor custo de financiamento, e o real valorizado ajuda quando recursos externos entram ou permanecem no país.
Além disso, a política monetária internacional tem papel decisivo na valorização da bolsa brasileira e no fortalecimento do real. Como explica o economista, a expectativa de queda das taxas de juros nos Estados Unidos é um dos principais impulsionadores do otimismo nos mercados emergentes. Quando os juros americanos tendem a cair, o dólar perde atratividade e investidores buscam destinos com rendimentos mais altos, como o Brasil.
Os últimos indicadores da economia norte-americana vieram mais fracos do que o esperado, reforçando a projeção de política monetária mais branda pelo Federal Reserve (Fed): “Apesar do discurso de Jerome Powell, a expectativa é de taxas de juros mais baixas lá. Já temos dados de emprego e estimativas preliminares mais fracas, então é razoável projetar que a taxa de juros vai diminuir”, resumiu Troster, destacando que o fluxo de capital estrangeiro acaba beneficiando tanto o Ibovespa, que se valoriza, quanto o real, que se fortalece frente à moeda norte-americana.
Entretanto, segundo o economista, apesar dos recordes do Ibovespa, os dados não necessariamente são positivos para a economia brasileira: “Não estamos com dados positivos. O Brasil tem alguns fatores exógenos, que escapam da política econômica; por exemplo, o petróleo. O petróleo é PIB na veia. Como tudo o que você produz a mais não é consumido internamente, isso melhora a balança comercial. Melhorando a balança comercial, entram mais dólares”, argumentou ele.
Troster afirma ainda que parte da melhora já está precificada no mercado: os recordes do Ibovespa começaram na metade do ano. Por exemplo, o índice superou os 140 mil pontos em maio e alcançou 150 mil em 3 de novembro. No entanto, ainda há espaço para “surpresas positivas”, como melhor desempenho das exportações, safra agrícola superior ou nova queda da inflação: “Outro fator exógeno é a safra. Há projeção de uma safra recorde este ano, o que é positivo para o Brasil. O shutdown nos Estados Unidos e as barreiras comerciais, apesar de negativos em alguns aspectos, têm efeitos positivos em outros. Vou citar a China: ela vai importar mais do que importaria se não houvesse, por exemplo, os Estados Unidos. Então, não é um quadro ruim e podemos ter mais surpresas positivas”, ponderou.
Apesar do cenário favorável, Troster alerta que há três riscos principais que podem interromper a maré positiva do mercado brasileiro: risco fiscal, político e câmbio. Se a dívida pública continuar crescendo sem controle, a confiança dos investidores pode diminuir, provocando fuga de capital, desvalorização do real e, consequentemente, queda nas ações: “O primeiro risco é o fiscal. A dívida pública não pode crescer indefinidamente; em algum momento haverá problemas. O segundo é político. A política varia no Brasil e eu sempre falo que a realidade supera a imaginação. E o terceiro é o câmbio brasileiro, feito num mercado futuro. Muito por conta do carry trade, está em um momento bom agora, mas já tivemos casos no passado em que, de uma hora para outra, a maré mudou”. Ainda assim, ele mantém um tom otimista: acredita que o país deve seguir com crescimento, inflação sob controle e câmbio relativamente estável no próximo ano.
Diante da avaliação do especialista, a bolsa está em alta porque o Brasil é considerado “menos arriscado” e mais promissor, enquanto o mundo está com juros em queda. Já o dólar está caindo porque o real ganha confiança, e o ambiente externo favorece moedas emergentes. Portanto, para quem pensa em investir, é possível aproveitar o momento, mas com cautela, sem esquecer a possibilidade de reversão.






