Nesta semana, a capital do Pará, Belém, sedia a 30º edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30). O evento vem para transformar o Brasil em vitrine política e diplomática, e reafirmar o país como uma liderança ambiental global. O cientista político Magno Karl analisa, no entanto, os desafios que surgem ao tentar fazer da COP30 um legado, e “não apenas espetáculo”.
O especialista pontua inicialmente que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quer que o Brasil volte a ser visto como “parte da solução” tanto na pauta climática quanto na governança global. Ele também ressalta que há um objetivo interno: transformar o discurso verde em capital político. “A ideia é usar a COP como símbolo de compromisso com o futuro, algo que dá apelo entre jovens, investidores e setores urbanos progressistas, públicos que o governo vem tentando reconquistar”, explica.
Veja as fotosAbrir em tela cheia Lula com NoruegaDivulgação: Ricardo Stuckert Luiz Inácio Lula da Silva (PT)Reprodução: YouTube/CanalGov Davi Alcolumbre e Lula celebram aprovação da isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil mensalReprodução: Instagram/@lulaoficial
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Karl opina que o discurso tem tido sucesso, mas, na prática, há muitas limitações. “O governo tem apostado em eventos, comitês e acordos de cooperação para mostrar movimento, mas ainda falta coerência entre o que se diz e o que se faz, tanto no Brasil quanto em outros países. O discurso é grátis, mas ações têm custos significativos que os países têm evitado enfrentar de frente”, diz.
“O desafio é transformar a COP30 em legado, não apenas em espetáculo. E isso exige metas claras, indicadores de resultado e articulação com governos, empresas e sociedade civil, e metas que sejam ambiciosas, mas realistas, evitando, como se diz, que o ótimo seja inimigo do bom.”
O especialista ainda pontua que trazer a COP para o Brasil foi um “acerto estratégico e um risco calculado”. “Acerto, porque dá ao governo uma plataforma internacional que poucos países têm, e porque reforça a imagem de um Brasil de diálogo, diversidade e responsabilidade climática. Mas há também um risco: quanto mais o governo promete, mais será cobrado”, ressalta.
O cientista político ressalta que até agora, o desenrolar é ambíguo. “O país se prepara para receber o evento, mas a coordenação política e institucional ainda parece fragmentada. Há disputa de protagonismo entre ministérios, e as entregas concretas, como infraestrutura, planos de transição, parcerias, avançaram devagar e chegaram a gerar, como no caso dos hotéis, desgaste ao país. Em resumo: trazer a COP foi bom. Fazer dela um sucesso político e de gestão, porém, é um caso que exige engajamento e visão reais, muito além do puro marketing ambiental.”






