Há cinco anos, a cidade de Brasiléia, no Acre, é palco de uma luta incansável por justiça. Antonio Lucio, um capitão reformado do Exército, trava uma batalha para provar que seu filho, Alvaro, de 16 anos, não morreu em um confronto, mas foi executado por policiais militares em 2020. A história, que ganhou destaque em um programa da Record TV, revela uma tragédia familiar e levanta sérias questões sobre a atuação de uma unidade de elite da PM.
Alvaro e seu amigo Vicente, 19, filho de uma professora, foram mortos na mesma noite, em uma rua deserta da cidade. Os jovens eram amigos e estudavam juntos. A versão de “autos de resistência” dada pelos policiais à época sempre foi contestada pelas famílias, que buscam, desde então, desconstruir a imagem de criminosos imposta aos filhos.
Brasiléia, uma cidade tranquila de 30 mil habitantes à primeira vista, carrega a complexidade de ser uma região de fronteira com a Bolívia. Essa característica a coloca constantemente no topo dos rankings de violência do estado. A abordagem que resultou na morte dos jovens foi realizada por integrantes do Gefron (Grupo Especial de Fronteira).

Os policiais identificados na ação são Oséas de Oliveira Lira e Cleonizio Marques Vilas Boas. O nome deste último, no entanto, ecoa em um caso recente que chocou o Acre: o assassinato da enfermeira Géssica Melo de Oliveira, de 32 anos, em dezembro de 2023.
Um Padrão Questionável: O Caso da Enfermeira Géssica
Assim como no caso de Alvaro e Vicente, a morte de Géssica começou com uma versão da polícia. A PM afirmou que a enfermeira, que furou um bloqueio em Capixaba, estava armada com uma pistola 9mm. A família sempre negou veementemente.
As investigações subsequentes desmontaram a narrativa policial. Ficou comprovado que a arma encontrada no local não pertencia a Géssica e não carregava seu DNA. O caso resultou no indiciamento de dois PMs, entre eles, novamente, Cleonizio Marques Vilas Boas.
Ele e o colega Gleyson Costa de Souza respondem por homicídio (ou tentativa, no caso de Souza) duplamente qualificado e fraude processual. A qualificação “por motivo fútil” e “recurso que impossibilitou a defesa da vítima” na acusação contra Cleonizio ressoa tragicamente com a descrição da família de Alvaro sobre a morte do adolescente.
Para o capitão reformado Antonio Lucio, a descoberta de que um dos policiais envolvidos na morte de seu filho é réu em outro processo de homicídio serve como uma trágica validação de sua longa batalha. A luta pela memória de Alvaro, que começou em uma rua deserta de Brasiléia, agora se conecta a um padrão mais amplo de violência policial no estado, dando novo fôlego e urgência ao seu pedido por justiça.
Enquanto os processos judiciais seguem seu curso tanto o caso dos adolescentes quanto o da enfermeira Géssica , as famílias das vítimas permanecem unidas por uma mesma busca: a de que a verdade prevaleça sobre as versões e que a conduta dos agentes seja devidamente apurada e responsabilizada.








