
O jornalista Jota Cavalcante visitou o tradicional Lago do Santo Antônio, próximo ao município de Manoel Urbano, para registrar as memórias e a rotina do pescador Benedito Bispo de Almeida, de 67 anos, um dos moradores mais experientes e respeitados da região. Com mais de quatro décadas dedicadas à pesca, seu Benedito conhece cada canto do lago — e garante que ali está “o maior berçário de peixe da área”.
“Esse lago é bonito demais. Tem muito peixe, muito mesmo. É o que mais tem pirarucu por aqui”, contou ele, enquanto organizava suas maranhadeiras para mais uma pescaria.
Recordes na pesca do pirarucu
Seu Benedito já participou de vários manejos de pirarucu e chegou a conquistar o segundo lugar na categoria arpoador. Ao relembrar a competição, ainda se orgulha da marca atingida.
“Foram uns oito ou nove pirarucus que eu arpei. O maior deu 166 quilos”, relatou. “Mas o meu parceiro, que veio de fora, arpou um de 176 quilos. Por isso fiquei em segundo lugar.”
Mesmo assim, o pescador considera a façanha uma das maiores da sua trajetória no lago.
Com mais de 40 anos de pesca no Santo Antônio, seu Benedito mantém o costume de armar as redes à tarde e voltar pela manhã para verificar o resultado.
“Eu ato a maranhadeira e deixo. De manhã venho olhar. Vou colocar duas hoje, dá quase 300 metros”, explicou.
Além do pirarucu, ele destaca a variedade impressionante de espécies no lago: surubim, tambaqui, pirapitinga, jundiá e muitos outros.
Encontros com cobras e jacarés gigantes
O Lago do Santo Antônio também guarda histórias que despertam curiosidade e medo. Seu Benedito já se deparou com cobras enormes e jacarés gigantes.
“Outro dia, tirando uma maranhadeira, tinha uma cobra grossa encostada. Grande mesmo”, disse.
E sobre os jacarés, ele faz questão de reforçar:
“Uma vez vi um maior que essa canoa. E não foi só eu, não. Tinha seis canoas no lago naquele dia.”
Aos 67 anos, seu Benedito segue levando adiante a tradição da pesca artesanal, hoje considerada patrimônio cultural e econômico das comunidades ribeirinhas do Acre. No dia da entrevista, ele se preparava para mais um dia de trabalho, com a esperança de garantir o “rancho” para casa.
“Vou colocar a marinha aí e ver se pego um peixe pra fazer o rancho”, comentou sorrindo.
Histórias como a dele mantêm viva a memória dos pescadores que moldaram gerações inteiras às margens dos rios amazônicos.






