
Muito antes de “Noite Feliz”, “Então É Natal” ou das canções que tocam nas rádios em dezembro, o Natal já era celebrado com música. E não é exagero dizer que algumas dessas melodias atravessaram séculos — ou melhor, milênios — e ajudaram a moldar a forma como a data é comemorada até hoje.
Pesquisadores apontam que as primeiras músicas natalinas surgiram há pelo menos 1.500 anos, em um período em que o cristianismo ainda se consolidava no mundo romano. Naquela época, os hinos tinham função religiosa, catequética e simbólica, servindo para difundir a fé e explicar o significado do nascimento de Jesus.
A origem no século IV
A canção mais antiga do mundo associada ao Natal é, segundo historiadores, o hino latino “Jesus refulsit omnium”, que significa “Jesus iluminou a todos”. A obra foi composta no século IV por Santo Hilário de Poitiers, uma das principais figuras da Igreja primitiva.
O hino celebra a luz de Cristo que guia os Reis Magos até o menino Jesus e destaca o reconhecimento de sua divindade por meio da entrega dos presentes. Trata-se de uma música solene, com forte conteúdo teológico, típica das celebrações litúrgicas daquele período.
Na mesma época, outro nome importante contribuiu para a tradição musical do Natal: o poeta romano Prudêncio, autor do hino “Corde natus ex Parentis” (“Nascido do coração do Pai”). Assim como a obra de Santo Hilário, o canto exalta o nascimento de Cristo e ainda é estudado e utilizado em celebrações religiosas.
Do sagrado ao popular
Com o passar dos séculos, as músicas de Natal começaram a ganhar novos formatos e significados. A partir da Idade Média, especialmente entre os séculos XII e XIII, surgiram canções mais populares, com linguagem simples e elementos do cotidiano.
Na França, por exemplo, aparecem músicas que até hoje fazem parte do repertório natalino, como “Entre le bœuf et l’âne gris” (“Entre o boi e o burro cinzento”). Diferente dos hinos latinos, essas cantigas passaram a destacar o presépio, os animais e a cena do nascimento de Jesus de forma mais humana e acessível.
Essas composições ajudaram a popularizar o Natal fora das igrejas, levando a celebração para as ruas, vilas e famílias, e dando origem ao que hoje conhecemos como cantigas natalinas.
Enquanto os primeiros hinos, como “Jesus refulsit omnium”, tinham caráter solene e religioso, as canções medievais trouxeram emoção, narrativa e proximidade. Juntas, elas formaram a base da tradição musical natalina que atravessou séculos e continua viva até hoje.
Mesmo com a chegada de novos estilos, gravações modernas e sucessos comerciais, a essência das músicas de Natal permanece a mesma: celebrar o nascimento de Jesus, transmitir esperança e reforçar valores como união, paz e solidariedade.
Assim, quando as canções natalinas tocam nas festas de fim de ano, elas carregam muito mais do que melodia. Carregam uma história que começou há mais de 1.700 anos e continua encantando gerações ao redor do mundo.






