A Globo está pronta para revisitar um dos seus títulos mais simbólicos, mas de um jeito bem diferente do que o público se acostumou. Em uma live interna com funcionários da emissora nesta segunda-feira (15), o diretor Amauri Soares revelou que “Malhação” vai voltar a ser produzida, agora pensada para o formato vertical e com foco direto no ambiente digital. A ideia, segundo ele, é criar “uma novelinha com atores de verdade, jovens atores”, justamente para ativar o digital da TV Globo e dialogar com novas plataformas e linguagens.
A fala chama atenção não só pelo anúncio em si, mas pelo contexto. A Globo decidiu encerrar “Malhação” em 2020, depois de 27 anos no ar, sem deixar um substituto claro para aquele espaço de formação. O fim da produção não representou apenas o cancelamento de um produto da grade. Representou o esvaziamento de um dos maiores celeiros de atores da televisão brasileira. Foi em “Malhação” que a emissora testou, errou, acertou e revelou gerações inteiras de talentos que depois migraram para o horário nobre.
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Desde então, essa engrenagem ficou visivelmente comprometida. A Globo passou a depender mais de elencos já conhecidos ou de apostas pontuais, sem um projeto contínuo de renovação de jovens atores. O resultado apareceu rápido: menos rostos novos, menos diversidade de perfis e menos espaço para formação prática dentro da própria dramaturgia da casa.
A proposta de uma “Malhação” em formato vertical aponta para uma tentativa de correção de rota. É uma resposta direta às mudanças de consumo, especialmente entre o público jovem, que hoje assiste ficção no celular, em vídeos curtos e em plataformas digitais. Ao adaptar a linguagem e o formato, a Globo sinaliza que entendeu que não dá mais para pensar renovação de elenco apenas dentro do modelo tradicional da TV aberta.
Resta saber como esse projeto vai se materializar na prática. O desafio não é pequeno. “Malhação” sempre foi mais do que uma novela adolescente. Foi um laboratório, um espaço de aprendizado contínuo e um investimento de longo prazo. Se a nova versão conseguir manter essa função, mesmo em outro formato, a Globo pode recuperar uma peça fundamental da sua engrenagem criativa. Se ficar apenas no discurso ou no experimento raso para redes sociais, corre o risco de não cumprir o papel que um dia fez da emissora a maior formadora de talentos da TV brasileira.






