Parecia ser uma quinta-feira comum em Brasília, mas chegou um clima tropical na cidade, mais especificamente no Ulysses Centro de Convenções, com o show de Caetano Veloso.
Do primeiro acorde de “Branquinha” à explosão coletiva que encerrou a noite com “Odara”, Caetano mostrou por que continua sendo um dos artistas mais relevantes do país.
No palco do Festival Estilo Brasil, ele surgiu leve, atento, conectado — e liderando uma banda extremamente entrosada, que conduziu o espetáculo com precisão.
A plateia ainda estava se acomodando quando Caetano lançou “Gente”, acenando para o coro espontâneo que tomou a sala inteira.
Em seguida, veio a primeira comoção: “Vaca Profana”, acompanhada por uma homenagem delicada a Gal Costa projetada no telão — um encontro de memórias que fez a casa cantar como se fosse um só corpo.
Com “Divino, Maravilhoso”, o salão virou uma vibração única, lembrando as origens tropicalistas que moldaram a MPB.
A sequência ganhou densidade com “Cajuína”, emocionada e cristalina, seguida pela porrada politizada de “Podres Poderes” — uma música que, lançada há 40 anos, segue urgente.
A banda, impecável, atravessou todas as atmosferas com elegância: o groove sintético de “Anjos Tronchos”, o balanço peculiar de “Eclipse Oculto”, a sensibilidade de “Sozinho”, e a comoção coletiva em “Você Não Me Ensinou a Te Esquecer”, que transformou o público em um coral afinadíssimo.
O momento mais forte da noite veio logo depois. Caetano fez um discurso breve e firme, dizendo que Brasília é um lugar muito importante, “criado por JK e que precisa construir muito respeito”.
A frase encontrou o público já atento, mas o que veio em seguida foi arrebatador: um coro espontâneo e ensurdecedor de “sem anistia!” tomou o teatro, ecoando como uma onda política e emocional que atravessou o artista visivelmente tocado.
De volta à música, Caetano apresentou a linda e ainda recente “Uma Baiana”, referência visual e lírica à banda soteropolitana BaianaSystem, seguida da ternura atemporal de “Muito Romântico” e da catarse luminosa de “Alegria, Alegria”, que fez os primeiros espectadores se levantarem para dançar.
Mas, a grande surpresa da noite veio logo depois: uma versão elegante e arrepiante de “Linha do Equador”, de Djavan, enquanto o telão projetava formas inspiradas nos traços de Oscar Niemeyer — Brasília inteira parecia respirar junto.
A partir daí, o show mudou de temperatura. “Não Enche” trouxe bom humor, “Queixa” arrancou gritos e fez o público balançar nas cadeiras, “Um Índio” trouxe aquele silêncio reverente, e “Fora da Ordem” reacendeu o pulso político do espetáculo.
Após Caetano apresentar toda a banda — ovacionada, com toda justiça —, entregou uma sequência final de tirar o fôlego: “Desde Que o Samba é Samba”, com o público em pé, dançando; o clássico “Reconvexo”, que incendiou a plateia; e “É Hoje”, em clima de carnaval emocional.
O público pediu mais — e Caetano atendeu. Voltou para cantar “A Luz de Tieta”, arrancando risos, memórias e vozes descontroladas da plateia.
Com a banda, fez um último giro que fechou o espetáculo no ápice: “Odara”, com gente dançando nos corredores, braços erguidos, olhos brilhando e uma sensação nítida de que aquela noite ficaria guardada no corpo de todos que estavam ali.
Com o teatro ainda pulsando, o Ulysses Centro de Convenções já se prepara para a última noite de Estilo Brasil em 2025. O palco ficará agora à disposição de Liniker, que encerra a programação no dia 14 de dezembro com o último show do ano da CAJU Tour, uma apresentação muito aguardada e que promete coroar o festival com a energia e a celebração que marcaram a temporada histórica – tanto do festival quanto da artista.
Festival Estilo Brasil
Local: Ulysses Centro de Convenções
Ingressos: Bilheteria Digital










