Depois do reconhecimento que ganhou com “A Pior Pessoa do Mundo”, o renomado diretor Joachim Trier conseguiu surpreender novamente com “Valor Sentimental” (“Sentimental Value”). O filme, que promete ser o grande rival do longa nacional “O Agente Secreto” na temporada de premiações, promete encantar o público que gosta de um bom drama sobre a inquietação humana.
A obra densa, digna de ser assistida acompanhada de uma taça de vinho, carrega uma investigação de fraturas emocionais de uma vida, que impactam as relações familiares. Na trama, Gustav (Stellan Skarsgård) é um cineasta consagrado que, após o luto pela perda da esposa, decide transformar sua dor em roteiro para sua volta aos filmes.
Veja as fotosAbrir em tela cheia Cena do filme “Valor Sentimental”Reprodução / YouTube – NEON Cena do filme “Valor Sentimental”Reprodução / YouTube – NEON Cena do filme “Valor Sentimental”Reprodução / YouTube – NEON Cena do filme “Valor Sentimental”Reprodução / YouTube – NEON Cena do filme “Valor Sentimental”Reprodução / YouTube – NEON Cena do filme “Valor Sentimental”Reprodução / YouTube – NEON Cena do filme “Valor Sentimental”Reprodução / YouTube – NEON
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O projeto entra em um caminho perigoso quando ele expõe o desejo de que Nora (Renate Reinsve), sua filha, interprete a personagem principal. A mulher é uma atriz talentosa e aclamada no universo dos palcos do teatro, mas a energia caótica do passado trouxe instabilidades terríveis para sua vida.
Justamente por isso, e pelo fato de não ter um bom relacionamento com o pai, Nora acaba recusando a proposta para estar no elenco do filme. A atriz entrega cenas brilhantes, como, por exemplo, um momento complicado nos bastidores antes de entrar em uma apresentação com público lotado.
Assim como em seu trabalho anterior (“A Pior Pessoa do Mundo”), Renate prova que seu sucesso no papel não veio por sorte. Sua personagem é construída com uma intensidade brilhante e, em muitos momentos, é possível fazer o público sentir um tanto de sua ansiedade performática. Desesperada, com medo de ser engolida pela sombra do pai, Nora passa por uma construção delicada, e a artista demonstra sua habilidade de atuar com o corpo todo.
Elenco entrega performance impressionante
Percebendo que será difícil, ou até impossível, convencer a filha a participar de seu retorno aos cinemas, Gustav acaba conhecendo e convidando Rachel Kemp (Elle Fanning), uma estrela de Hollywood, para assumir o desafio. Entrando em um universo bastante diferente do dela, a jovem começa a ficar confusa com inúmeros detalhes da história.
Sua chegada expõe as hipocrisias da família e traz um grande elemento desestabilizador, com uma atuação extremamente delicada. O diretor Joachim Trier usa o conceito de “filme dentro do filme” como uma via possível de comunicação para personagens emocionalmente travados.
Um dos principais questionamentos surge quando o público é levado a entender até que ponto é justo transformar os traumas de quem amamos em entretenimento. A situação toda se desenrola, em grande parte, na antiga casa da família em Oslo, o que transforma o imóvel em uma testemunha silenciosa dos acontecimentos.
A direção de arte e a fotografia entregam um trabalho primoroso, que, em muitos momentos, parece sufocar os personagens em ambientes com corredores estreitos carregados de memórias impactantes. Stellan Skarsgård entrega uma performance contida, aparentemente para evitar que Gustav vire um verdadeiro vilão, mas ainda assim assina uma das melhores atuações de sua carreira.
O personagem é um homem com a veia artística capaz de servir como venda para sua negligência familiar. É como se o cineasta tivesse uma incapacidade de enxergar o outro, mesmo que essa pessoa seja extremamente importante, como sua filha.
Grandes atuações prometem impressionar o público
O longa-metragem de Joachim Trier, que ganhou o Grande Prêmio do Júri (Grand Prix) no Festival de Cinema de Cannes de 2025, recebeu recentemente oito indicações ao Globo de Ouro. A produção não é um filme que busca o choro ou uma reviravolta chocante, mas com certeza tem seus impactos.
“Valor Sentimental” exige paciência para acompanhar a resolução desse grande retrato de reconciliação familiar. Por outro lado, sua intensidade pode acabar afastando espectadores que buscam plot twists chocantes, mas não peca em entregar um enredo capaz de deixar qualquer um empolgado para saber onde tanta intensidade vai chegar.
A produção é uma verdadeira reflexão sobre a impossibilidade de “consertar” o passado e como é complicado lidar com feridas sem necessariamente curá-las.
Nota: 4.5/5






