11 dezembro 2025

Desenvolvimento, segurança e mudança climática (por Felipe Sampaio)

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Impossível o mundo falar em desenvolvimento sem considerar o avanço da criminalidade e as mudanças climáticas. É bem verdade que a definição do que seja um país desenvolvido não é absoluta nem permanente. A concepção de desenvolvimento muda o tempo todo, à medida em que as próprias sociedades evoluem. Essa evolução se dá na economia, tecnologia, agricultura, minerais, nas formas de governo, nos princípios éticos e na religiosidade.

Há alguns séculos os europeus eram o Velho Mundo (os fundadores do desenvolvimento). Ao descobrirem e se apropriarem de territórios ultramarinos, chamou-se essas posses de Novo Mundo, apesar de os considerarem menos desenvolvidos. Interessante é que estavam incluídos entre os subdesenvolvidos da época a China milenar, os árabes e as nações africanas, que já dominavam a matemática, a astronomia, a engenharia, a produção de alimentos etc. Muitas vezes eram chamados infiéis, em referência ao seu paganismo (aos olhos cristãos).

A definição de desenvolvimento tem caráter político. No séc. XX, o nazismo decretou a superioridade ariana sobre os demais povos, tratados como subdesenvolvidos por fatores subjetivos. Curioso é que boa parte dos judeus então perseguidos eram empresários, cientistas e trabalhadores qualificados – vetores do desenvolvimento alemão.

Tecnicamente, durante um bom tempo, mediu-se o desenvolvimento de um país pelo seu PIB per capita, favorecendo a confusão entre desenvolvimento e crescimento econômico. Ultimamente o balaio de variáveis que medem o desenvolvimento ficou mais sortido. Acrescentou-se medições de bem-estar, além do desempenho da economia. Surgiu o Índice de Desenvolvimento Humano, constituído por indicadores de renda, longevidade e educação. Já o Índice de Gini mede o grau de desigualdade social.

Contudo, cresce a necessidade de se incorporar novos aspectos ao tratamento do desenvolvimento, que melhorem a interpretação da realidade, a compreensão dos fatores e a proposição de soluções. Entre esses novos olhares, dois aspectos chamam a atenção: a criminalidade e as mudanças climáticas.

Como desconsiderar nas políticas para o desenvolvimento o fato de que 1/3 da população do Rio de Janeiro vivem sob a interferência do crime organizado, a quem a população paga tributos, taxas e serviços “públicos”? Como negar a existência de um Estado paralelo em expansão? Como ignorar um mercado do crime que permeia a economia legal?

A questão é mundial. Usando o Brasil apenas como exemplo, não dá pra deixar fora da equação do desenvolvimento os milhares de homicídios por ano, geralmente jovens pobres negros desocupados moradores de favelas. Em um país que vivencia o envelhecimento de sua população e redução da parcela jovem estamos falando do futuro da população economicamente ativa, sem falar nos sobreviventes sem acesso ao Estado. Será que podemos festejar a pequena diminuição de homicídios nos últimos anos, ou decorreu da dinâmica demográfica geral que reduziu o número de jovens “assassináveis”?

A esse cenário já complexo a mudança climática também precisa entrar na soma do desenvolvimento.  Os desdobramentos climáticos têm que ser confrontados e cruzados, por região, com os indicadores sociais e econômicos.  Não é à toa que já se adotam expressões como justiça climática e racismo ambiental. São enfoques que acendem a luz laranja para as relações entre aquecimento global e desenvolvimento (de olho no agravamento da desigualdade social, da violência contra mulheres, migrações, moradia, acesso a água, infraestrutura).

Felipe Sampaio: Atuação em grandes empresas, ONGs e programas multilaterais (Banco Mundial, ONU/PNUD, BID, OEA/IICA); sócio da Terra Consultoria; foi secretário-executivo substituto no Ministério do Empreendedorismo; chefiou a assessoria do Ministro da Defesa; dirigiu o sistema de estatística no Ministério da Justiça; foi empreendedor em mineração; presta assessoria à presidência do Ibram.

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