24 dezembro 2025

Educação na Amazônia é chave para proteger a floresta e enfrentar a crise climática

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Foto: agroflorestamazonia

Com a volta do inverno amazônico, as primeiras chuvas fortes já começam a mudar a rotina de quem vive na floresta. O barro vira lama, os rios sobem e o caminho até a escola pode mudar de um dia para o outro. Depois de meses de seca severa, o Acre agora se prepara para cheias cada vez mais intensas, com impactos profundos na vida das comunidades. Entre um extremo climático e outro, há uma presença que segue firme: a escola. É no cotidiano da educação que a Amazônia enfrenta, de forma concreta, a crise climática.

O debate recente da COP30, realizada no Brasil, reforçou o olhar do mundo para a Amazônia como uma fronteira decisiva para o clima global. Mas essa proteção não se sustenta apenas com satélites, fiscalização, grandes acordos ou recursos internacionais. A floresta se mantém viva — ou é esquecida — dentro da sala de aula. Na Amazônia, educação não é um serviço complementar: é a infraestrutura que sustenta o território e mantém as comunidades onde estão.

Quando uma escola funciona em uma área de floresta, ela ajuda a fixar as famílias. Quando não chega ou deixa de funcionar, o território se esvazia. Proteger a Amazônia começa no orçamento público e na logística diária, não apenas nos discursos de conferências internacionais. Nas regiões mais isoladas, a escola vai muito além do ensino: ela é ponto de encontro, referência do Estado e elo entre as famílias. Em cada seca histórica, em cada cheia que muda o curso dos rios ou apaga antigos caminhos, é a escola que ajuda a organizar a vida coletiva e manter os vínculos sociais.

Diante de eventos climáticos cada vez mais extremos, formar gerações capazes de compreender essa realidade e agir sobre ela é tão essencial quanto construir infraestrutura. Garantir o direito à aprendizagem no território amazônico também é uma política ambiental. A floresta permanece em pé quando as crianças conseguem estudar sem precisar abandonar o lugar onde nasceram. Quando a escola chega, a migração forçada diminui, os costumes se preservam e o conhecimento local continua vivo. Onde a escola falta, surgem deslocamentos, perda de identidade e o crescimento desordenado das periferias nas grandes cidades.

Manter a educação funcionando na Amazônia tem um custo social, administrativo e ambiental elevado. Significa lidar com rios que secam no verão e transbordam no inverno, substituir ônibus por barcos, garantir combustível e enfrentar trajetos cada vez mais longos. Entregas que antes levavam oito dias passaram a exigir até 15 dias em 2025. É preciso adaptar o calendário escolar ao ritmo das águas, levar merenda, livros e mobiliário por caminhos que desaparecem na estiagem e reaparecem na cheia. Uma realidade que vai muito além do que a legislação nacional costuma considerar.

No Acre, essa diversidade se reflete nos quatro calendários que organizam a rede de ensino: o dos rios, o da floresta, o do campo e o urbano. Há escolas que iniciam o ano letivo mais cedo para aproveitar a seca; outras que dependem do período de cheia para garantir acesso por barco. A escola precisa seguir o tempo da natureza, não apenas o calendário oficial. Quando o financiamento trata todas as unidades como se estivessem na mesma avenida urbana, ignora diferenças fundamentais.

Essa distorção impacta diretamente o financiamento da educação. O Fundeb não considera, por exemplo, escolas onde o transporte leva quase duas semanas de barco ou onde professores permanecem longos períodos dentro das comunidades para garantir as aulas. Financiar a Amazônia como se fosse um bairro urbano enfraquece o presente e compromete o futuro.

Ao mesmo tempo, a educação na floresta produz soluções que poderiam inspirar o país inteiro: professores que se deslocam pelos rios, escolas que organizam o tempo conforme o movimento das águas, redes que funcionam mesmo sem estradas e convivem diariamente com o imprevisto. Em muitos lugares, a escola é a única presença do Estado. Quando ela falha, a referência do poder público também desaparece.

Por isso, mesmo com o avanço das chuvas, a educação não para. Enquanto os rios sobem, equipes trabalham na manutenção de telhados, acessos, sistemas de água e energia, reforçam estruturas e preparam as escolas para o ano letivo de 2026. No Acre, o período seco é usado para recuperar o que a água danificou; na cheia, os rios viram caminho para levar alimentação, materiais e equipamentos a locais onde a estrada não chega. É um trabalho silencioso, mas essencial para manter as escolas abertas quando o clima mais desafia o cotidiano.

A COP30 terminou, os discursos foram feitos e os documentos assinados. Mas o compromisso com a Amazônia não pode ficar restrito a encontros internacionais. O Brasil precisa de um novo pacto federativo que reconheça o custo real de educar na floresta e assegure financiamento compatível com essa geografia. A proteção ambiental começa na sala de aula — seja ela em uma escola ribeirinha, em uma aldeia distante ou em um anexo improvisado — garantindo que nenhuma criança precise deixar seu território para estudar.

Educação é a base que sustenta a floresta e a dignidade das famílias que vivem nela. Sem uma educação forte e adequada à realidade amazônica, nenhuma política climática se sustenta de pé.

Via Agência de Notícias do Acre.

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