O programa Fantástico, da TV Globo, deste domingo (7/12) voltou a abordar a morte de Gerson de Melo Machado, de 19 anos, conhecido como Vaqueirinho, que perdeu a vida após invadir o recinto de uma leoa no Parque Arruda Câmara, em João Pessoa. A reportagem reuniu vídeos e depoimentos que mostram não apenas o momento que antecedeu o ataque, mas também o longo histórico de negligência e vulnerabilidade que acompanhou o jovem desde a infância.
O programa exibiu imagens do local e chamou atenção para um detalhe: as marcas das garras de Leona na árvore usada por Gerson para descer até o espaço onde o animal estava. Segundo o Fantástico, o tronco serviu de apoio para que o jovem alcançasse o interior da jaula antes de ser atacado. O repórter ressaltou: “O zoológico de João Pessoa parou para revisar a segurança no parque. A árvore está cravada com as garras da leoa. Leona ficará marcada como aquela que matou Gerson Machado. Os dois nasceram no mesmo ano, e desde 2006, a leoa de cativeiro nunca precisou caçar”.
O programa também revelou o sonho que Gerson carregava: o de viajar para a África para “domar leões”, relato confirmado pela conselheira tutelar que o acompanhou por anos. A reportagem destacou ainda outros episódios em que o jovem se colocou em risco, como quando tentou se esconder no trem de pouso de um avião.
Veja as fotosAbrir em tela cheia Gerson, o “Vaqueirinho”: abandono, invisibilidade e falhas de proteção que antecederam a morte na Bica Foto: Reprodução Parque onde homem morreu ao invadir jaula de leoa está fechado por tempo indeterminadoReprodução redes sociais/ montagem Foto/Kleide Teixeira/PMJP/G1 Vaqueirinho foi acompanhado pelo Conselho Tutelar dos 10 aos 18 anos.Reprodução/Internet
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A escalada da tragédia
Câmeras de segurança mostram Gerson entrando no parque de madrugada, por uma área longe da visitação. O jovem seguiu sozinho até o setor dos felinos, escalou uma estrutura lateral, alcançou o telhado e desceu pela árvore que dá acesso ao recinto de Leona. Visitantes foram surpreendidos, alguns gritando em alerta e outros apenas filmando. Mesmo hesitante ao ver a leoa, Gerson continuou avançando e o ataque foi inevitável.
O incidente levou o zoológico a revisar protocolos e reforçar barreiras físicas, instalar câmeras inteligentes e intensificar treinamentos internos. Especialistas alertam que, embora importantes, essas medidas não atacam a raiz do problema.
Leoa retorna ao recinto
Quatro dias após o ataque, o Parque Arruda Câmara divulgou um vídeo mostrando o retorno de Leona à jaula onde o episódio ocorreu. Nas imagens, a leoa explora o ambiente com cautela, observando cada detalhe. Equipes do zoológico seguem monitorando o comportamento do animal, que havia sido retirado do local imediatamente após a morte de Gerson. Os técnicos reforçaram que, devido ao seu comportamento estável, não houve qualquer avaliação sobre eutanásia.
Uma vida marcada por abandono
A repercussão nacional do caso reacendeu debates sobre segurança em áreas monitoradas e também sobre o histórico de negligência enfrentado por Gerson. O jovem acumulava passagens pela rede de saúde mental e por instituições de acolhimento, sem conseguir criar vínculos duradouros. Desde os sete anos, quando passou a comer lixo na escola, demonstrava sinais de sofrimento mental severo. Na casa onde vivia, o Conselho Tutelar encontrou extrema vulnerabilidade: a mãe, os avós e outros responsáveis eram diagnosticados com esquizofrenia.
Os relatos de quem conviveu com Gerson revelam episódios dolorosos, como a reação da mãe durante uma visita acompanhada pela conselheira:
— “Eu não sou mais sua mãe. Vá com a moça.”
E o choro do menino: “Mas você é minha mãe.”
Apesar das sucessivas tentativas de acolhimento e tratamento, Gerson seguia fugindo e retornando às ruas. Foi nas calçadas de João Pessoa que ganhou o apelido de Vaqueirinho, ao cuidar de cavalos e dividir vídeos ingênuos e, muitas vezes, explorados para gerar engajamento.
A conselheira que o acompanhou resume o sentimento de impotência: “Gerson teve atenção nas redes sociais. Gerson, pessoa, não. Tudo ao redor dele — a espetacularização, o abandono, a falta de tratamento — é sintoma de uma sociedade adoecida.”






