
O templo que abriga uma estátua de Lúcifer em Gravataí, na Região Metropolitana de Porto Alegre, continua interditado e abandonado há mais de um ano. O local, idealizado pelo Mestre Lukas de Bará da Rua, representante da Nova Ordem de Lúcifer na Terra (N.O.L.T), deveria ter sido inaugurado em agosto de 2024, mas a cerimônia foi impedida pela prefeitura por falta de alvará.
Hoje, o terreno de cinco hectares apresenta sinais de abandono: mato alto, galhos espalhados e muitos mosquitos. Mesmo assim, a estátua de cinco metros, visível da estrada de chão, ainda chama atenção de quem passa por ali.
Dentro da propriedade, uma casa que antes guardava mais de 200 imagens usadas pelo grupo religioso agora está vazia. As peças foram levadas para outros locais onde os encontros acontecem de forma reservada. Qualquer atividade no terreno interditado pode gerar multa diária de R$ 50 mil.
Disputa por alvará e decisão da Justiça
Após a interdição, o grupo tentou regularizar o templo. Primeiro, buscou o enquadramento como “povo de terreiro”, depois como instituição religiosa, mas ambos os pedidos foram negados. Segundo Mestre Lukas, a prefeitura alegou que o Conselho do Povo de Terreiro não estava homologado e, por isso, não poderia emitir o alvará — mesmo tendo liberado mais de 500 outras licenças.
Em setembro de 2025, a Justiça concedeu parcialmente um mandado de segurança solicitado por Lukas, determinando que o processo administrativo seja reaberto. O juiz afirmou que não há lei que impeça a análise simultânea de dois pedidos de licença religiosa para o mesmo endereço e apontou falta de justificativa legal para o indeferimento.
A decisão não libera automaticamente o alvará; a avaliação dos requisitos continua. A prefeitura recorreu, e o caso agora aguarda análise de instância superior. Enquanto isso, a interdição permanece.
Líder denuncia intolerância e diz sofrer perseguição religiosa
Para Mestre Lukas, a situação ultrapassa a burocracia e se tornou um caso de perseguição religiosa. Ele critica a postura da prefeitura e afirma que o Estado deve garantir liberdade de culto.

No auge da polêmica, o grupo recebeu ameaças de morte e mensagens prometendo incendiar o local. Com o tempo, os ataques diminuíram e surgiram mensagens de apoio. Lukas diz que a visibilidade acabou atraindo mais seguidores.
Segundo ele, para a N.O.L.T., Lúcifer não é visto como demônio, mas como símbolo de conhecimento e transformação. “Ele é o portador da luz. Escolhemos um espaço na natureza justamente para estudar e refletir”, afirmou.
A estátua de Lúcifer
A estátua de cinco metros pesa uma tonelada e custou R$ 35 mil, valor pago por integrantes da ordem. Produzida em cimento, representa a dualidade entre o corpo humano e o esqueleto, com asas e pés, simbolizando a divindade luciferiana. Lukas relata que sonhou com a imagem antes de idealizar o monumento, que ainda deve receber iluminação especial caso o templo seja inaugurado.
Noltismo: a religião criada pelo grupo
A Nova Ordem de Lúcifer na Terra foi oficializada pelos fundadores do templo no último ano. Segundo Lukas, o noltismo possui dogmas próprios, prega o culto a demônios e apresenta uma nova interpretação da espiritualidade luciferiana.
Os seguidores são chamados de noltistas ou daimomantes — termo que combina “daimon”, espírito interior, e “amantia”, estado de entrega ritual. A religião vê Lúcifer como um símbolo de libertação e conhecimento, não como figura associada ao mal.
Quem é Mestre Lukas
Natural de Gravataí, Mestre Lukas de Bará da Rua é mestre de quimbanda independente e trabalha com cartas e búzios negros. Também participou da criação de um monumento dedicado a Exu no município. Ele afirma que decidiu fundar a ordem para trabalhar com figuras de demônios sem sofrer preconceito dentro das casas de quimbanda.






