Segundo o pesquisador Eduardo Neves, a Amazônia não era uma região despovoada no passado remoto, como muitos imaginavam, mas sim um local de grande riqueza e densidade populacional. Neves, professor titular de arqueologia brasileira e diretor do MAE-USP (Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo), destaca que a presença humana na Amazônia remonta a mais de 8.000 anos, com algumas evidências de povoamento datadas de 13.000 anos atrás. Estima-se que a população total da região no início do século 15, antes da chegada dos europeus, fosse de cerca de 10 milhões de pessoas.
Neves foi o palestrante da segunda Conferência Fapesp 2024, onde apresentou novas descobertas arqueológicas que mudaram o paradigma sobre o passado da Amazônia. Ele afirmou que a região foi um centro independente de domesticação e cultivo de plantas, além de abrigar diversos centros independentes de produção de cerâmica. Isso resultou em uma paisagem transformada pela ação humana, produzindo abundância e diversidade cultural.
O manejo humano na Amazônia teve um papel fundamental na formação da agrobiodiversidade da região. Neves destacou que das 390 bilhões de árvores na Amazônia, apenas 227 espécies respondem por quase metade delas, e a hiperdominância dessas espécies é resultado do manejo humano. Isso inclui plantas como o açaí, milho, mandioca, amendoim, castanha, entre outras.
A Amazônia também abrigava vários centros independentes de produção de cerâmica, com exemplos datados de até 7.000 anos atrás. Essas descobertas apontam para uma história complexa e rica da região, que desafia antigas concepções sobre sua ocupação e uso humano.