O recente “Relatório sobre o Estado do Oceano” (StOR), divulgado pela Unesco, revela que 72% das 1.473 espécies ameaçadas de extinção encontram refúgio em Áreas Marinhas Protegidas (AMPs). Essas áreas são fundamentais para a preservação da biodiversidade, a segurança alimentar e a saúde geral dos oceanos.
As AMPs são regiões delimitadas com o objetivo de conservar espécies e recursos naturais, onde são implementadas medidas para garantir o desenvolvimento sustentável, o turismo ecológico e a pesca controlada. A maioria dessas áreas protegidas está localizada no mar territorial, a faixa marítima costeira sob jurisdição de seus respectivos países. No Brasil, as unidades de conservação abrangem 27% do mar territorial.
O relatório, que teve sua primeira edição publicada em 2022, oferece informações científicas sobre o estado atual dos oceanos e os impactos do aquecimento global, incluindo a elevação da temperatura das águas, acidificação, queda das taxas de oxigênio em ambientes marinhos e elevação do nível dos mares. O documento serve como subsídio para decisões políticas e administrativas e estimula novas investigações.
A elaboração do relatório integra os esforços da Unesco para promover os compromissos da Agenda 2030, estabelecidos na Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável em 2015, que inclui 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O ODS 14 visa a conservação e utilização sustentável dos oceanos, mares e recursos marinhos. A nova edição do relatório contou com a participação de 98 autores de 25 países e destaca a importância do ordenamento do espaço marinho como mecanismo político para reduzir as pressões sobre os ecossistemas.
Em 2023, 126 países e territórios aplicaram políticas baseadas em áreas para gerir de forma sustentável as atividades no oceano, representando um aumento de 20% em comparação com 2022. A continuidade desta tendência positiva é crucial para a ação no âmbito do ODS 14.
Os pesquisadores enfatizam a absorção de gás carbônico pelos oceanos, que desde a década de 1960 perderam 2% do seu oxigênio. Essa perda resultou na formação de centenas de “zonas mortas” devido à poluição. Ecossistemas costeiros como manguezais e pântanos de maré são identificados como importantes reservatórios de carbono, reduzindo o estresse causado por um oceano mais quente, ácido e com menos oxigênio. No entanto, entre 20% e 35% desses ecossistemas foram perdidos desde a década de 1970.
Outra preocupação é a eutrofização, causada pelo excesso de nutrientes devido ao despejo de esgoto e água não tratada. O relatório destaca a necessidade de quantificar as fontes dominantes de azoto e fósforo para desenvolver estratégias e políticas de redução. A eutrofização e a acidificação afetam populações de algas, prejudicando espécies importantes e favorecendo a proliferação de outras nocivas.
Além disso, o aumento da quantidade de plásticos no oceano desde a década de 1990 é alarmante. Diversos estudos identificaram o consumo de microplásticos por peixes, apresentando riscos à saúde. O relatório enfatiza a necessidade urgente de mecanismos globais para rastrear a poluição por nutrientes e plásticos.
Com o crescimento populacional mundial estimado em 2 bilhões de pessoas nos próximos 25 anos, a pressão sobre a produção de alimentos aumentará. A sustentabilidade da vida marinha é crucial, visto que animais aquáticos e algas são importantes fontes de alimentação. A produção da pesca e da aquicultura continua crescendo, atingindo um recorde de 218 milhões de toneladas em 2021. O relatório conclui que uma compreensão mais profunda do papel dos alimentos aquáticos é essencial para enfrentar os desafios nutricionais, sociais e ambientais futuros.
Via Agência Brasil