26 novembro 2024

Policial detido por ameaças a Promotor enfrenta investigação por corrupção e apropriação indébita de R$ 30 de mãe de detento

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Policial civil João Rodolfo, suspeito de ameaçar de morte o promotor Tales Tranin, é investigado por receber propina e se apropriar de dinheiro da mãe de detento — Foto: Arquivo pessoal

João Rodolfo da Cunha Souza, um policial civil, está atualmente detido por supostamente fazer ameaças de morte contra o promotor de Justiça Tales Tranin. Além disso, ele também enfrenta outros dois processos administrativos por corrupção passiva e peculato.

De acordo com os processos aos quais o site G1 teve acesso, João Rodolfo e um colega são acusados de extorquir dinheiro de um homem que procurou a delegacia para registrar um boletim de ocorrência. Em 2022, a mãe de um detento apresentou uma queixa na corregedoria por ter entregue R$ 30 ao policial para comprar comida para o filho que estava preso. No entanto, o rapaz não recebeu o alimento prometido pelo policial civil.

João Rodolfo está detido desde domingo (9) na Unidade Prisional 4 (UP-4), em Rio Branco. A sua detenção foi efetuada pela Polícia Civil em conjunto com a 1ª Promotoria de Justiça Criminal, que conduz as investigações com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público Estadual (MP-AC).

As investigações pelo Gaeco começaram em abril deste ano, quando as ameaças foram descobertas. Na época, o caso foi encaminhado para a Procuradoria-Geral de Justiça. Em nota publicada no último dia 4, o órgão afirmou que medidas administrativas foram tomadas para garantir a integridade física do promotor. O processo está atualmente em segredo de justiça.

O governo do Acre também divulgou uma nota afirmando que foi aberto um procedimento investigatório para apurar os fatos, sob a supervisão da Corregedoria-Geral da Polícia Civil.

O advogado de defesa do policial civil, Janderson Soares, ressaltou que não há condenação transitada em julgado contra seu cliente. Ele também mencionou que entrou com um pedido de soltura à Justiça.

A defesa alega que não houve ameaça de morte contra o promotor Tales Tranin. Segundo o suspeito, houve uma menção ao promotor em uma frase durante uma conversa com um colega. “Essa frase foi interpretada de forma equivocada pelo Ministério Público, mas em nenhum momento foi ameaça. Não tem nenhuma conotação ou tentativa contra a vida do promotor. Não utilizou verbo do tipo matar ou agir contra a integridade física contra o promotor. Houve uma interpretação equivocada”, argumentou a defesa.

Corrupção Passiva

De acordo com o processo de corrupção passiva, um motociclista foi até a Delegacia de Polícia da 1ª Regional, no bairro Sobral, no dia 24 de maio de 2021, para registrar um boletim de ocorrência após ter a motocicleta tomada por uma pessoa. A vítima explicou na delegacia que comprou o veículo do suspeito, mas que ainda não tinha passado o documento para seu nome e que havia uma multa para pagar.

Os policiais teriam dito que resolveriam a situação por R$ 1,2 mil com entrada de R$ 200 pelo serviço. Sem saber que estava caindo em um golpe, o homem deu duas notas de R$ 100 para cada policial e foi embora.

A vítima relatou no processo que ligou várias vezes para o colega de João Rodolfo para saber se a moto tinha sido encontrada, contudo, as ligações não foram atendidas. Após várias tentativas, o policial atendeu a ligação e combinou de entregar o veículo em determinado local, o que não foi cumprido.

No dia 31 de maio, a vítima resolveu voltar na delegacia e denunciou o caso para um delegado. A corregedoria foi acionada e o caso começou a ser investigado. O homem alegou que só aceitou o acordo porque precisava da moto para trabalhar.

Ao ser ouvido pelo corregedor-adjunto da época, delegado Alberto Dalacosta Filho, João Rodolfo negou a acusação e alegou que chegou a sair da sala quando a vítima registrava o boletim de ocorrência deixando apenas o colega de farda.

Já o outro policial afirmou que ouviu quando o dono da moto ofereceu dinheiro para João Rodolfo. Os dois policiais foram denunciados pelo Ministério Público Estadual em agosto de 2021. Em setembro do mesmo ano, os dois foram intimados pela 4ª Vara Criminal de Rio Branco a prestar esclarecimento dos fatos.

O processo segue em andamento, tendo sido realizada uma audiência no dia 10 de maio e remarcada para agosto.

Em abril de 2022, uma dona de casa buscou a Delegacia da 2ª Regional para saber notícias do seu filho que tinha sido preso por não pagar pensão alimentícia. A mãe queria saber se seria entregue comida para o filho e ouviu de um policial, que posteriormente foi identificado como João Rodolfo, que a delegacia não fornecia alimentação para os presos.

Ainda segundo o depoimento da mulher, o policial se ofereceu a comprar comida para o detento. A mãe ainda chegou a perguntar por quanto sairia a janta, mas o policial disse que não sabia o valor. De acordo com o processo, a mulher entregou R$ 30 para João Rodolfo, sendo R$ 20 para um espetinho de churrasco e R$ 10 para o refrigerante.

A mulher diz que ouviu do policial que não era permitido entrar com comida no local, contudo, levaria o alimento pela parte de trás da delegacia.

O rapaz foi solto no dia seguinte e a mãe perguntou se ele tinha se alimentado. O rapaz respondeu que tinha recebido uma marmita entregue pela própria equipe policial, mas que não era churrasco. A mulher relatou que achou estranho e contou que deu dinheiro para um policial comprar o espetinho e o refrigerante.

No dia 11 de abril, a mulher voltou na delegacia para falar com o policial. Ao chegar no local, ela disse que encontrou João Rodolfo conversando com um colega e quando ele a viu fechou a porta rapidamente.

A mulher foi atendida por um delegado e orientada a buscar a corregedoria. Em depoimento, o policial confirmou que recebeu dinheiro de parentes de vários detentos e comprou todos os alimentos solicitados.

João Rodolfo negou que tivesse ficado com o dinheiro e também alegou que não se lembrava do caso específico. Ele foi preso em maio de 2023 e denunciado pelo MP-AC em junho do mesmo ano. Na época, João Rodolfo foi solto para usar tornozeleira eletrônica.

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