25 novembro 2024

STJ declara nula confissão de acusada de homicídio após perita admitir manipulação em podcast

spot_imgspot_imgspot_imgspot_img
Telma Rocha (à dir.) e Leandro Lopes (à esq.) comentaram sobre caso em podcast e são investigados pela Corregedoria da Polícia Civil — Foto: Reprodução/YouTube

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) declarou nula a confissão de Adriana Pereira Siqueira, acusada de matar o marido, após uma perita revelar, em um podcast, que forçou a declaração da ré.

Em 2018, Adriana foi flagrada pela Polícia Civil confessando o assassinato de seu companheiro, que ela matou a facadas e incinerou o corpo. A confissão foi obtida no dia seguinte ao crime. No entanto, em março de 2022, a fotógrafa técnico-pericial Telma Rocha e o perito criminal Leandro Lopes, envolvidos na investigação, discutiram o caso em um podcast e mencionaram ter pressionado Adriana para obter a confissão.

Durante a gravação do podcast Inteligência Ltda., Telma detalhou técnicas usadas para obter a confissão, incluindo conversas manipulativas e promessas de benefícios, o que levou a defesa de Adriana a solicitar a anulação do processo por violação do direito ao silêncio. Inicialmente, o pedido foi negado, mas a ministra Daniela Teixeira do STJ determinou a nulidade da confissão e da busca domiciliar realizada sem a devida informação dos direitos da ré.

Confira as falas abaixo

 Eu falei: ‘Olha, deixa eu te falar uma coisa, eu vou conversar com você bem devagar, você não me responde enquanto eu estiver falando, você vai pensando na resposta’. E aí o doutor sinalizou como quem está dizendo ‘Vai embora’.

 ‘Eu vi que tem sangue embaixo da sua unha’. Ela falou: ‘Mas eu estou menstruada’. Eu falei ‘Não precisa me responder, mas não esqueça que você está falando com uma mulher, porque eu também menstruo”.

 Fui enrolando ela um pouco, falando que às vezes a gente quer tomar uma atitude, mas, no calor da emoção, a gente toma outra atitude e isso não está previsto, que ela não ia sair de lá esculachada, algemada ou no camburão da viatura.

 E ela: ‘Não fui eu, não fui eu’. Eu falei: ‘Calma, deixa eu acabar de falar’.

— E aí a gente deu mais uma forçadinha. […] Eu falei: ‘Só que você confessar agora para a autoridade policial vai te trazer um benefício’.

— E aí ela falou: ‘Fui eu’. Naquela hora que a pessoa fala ‘fui eu’… Dentro de você aparecem dois pom-pons falando: ‘Uh, caralho!’

A ministra também criticou a conduta dos peritos, chamando-a de “extremamente censurável” e ordenou que a conduta de Telma e Leandro fosse investigada. A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo confirmou que os policiais estão sendo investigados por um procedimento administrativo.

Apesar da nulidade da confissão, a decisão do STJ manteve a pronúncia de Adriana, que ainda enfrentará um júri popular. O julgamento está agendado para 30 de janeiro de 2025. A Justiça também determinou a exclusão das provas relacionadas à confissão e à busca domiciliar do processo, e solicitou novos laudos do local do crime.

A 3ª Vara do Júri da Capital afirmou que não reconsiderará a decisão e que as partes devem aguardar a data do júri.

Veja Mais