29 setembro 2024

Saúde Infantojuvenil no Acre: máscaras personalizadas e espaços lúdicos transformam tratamento do câncer

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“Em nome de Jesus, Senhor, já estou curado.” Esse tipo de oração é frequente na rotina de Bryan Vinicius de Souza Vidal, de 4 anos, que luta contra o câncer. Diagnosticado com sarcoma de células claras (SCC) há um ano, ele é um dos pacientes da Unidade de Alta Complexidade em Oncologia do Acre (Unacon), na ala pediátrica. Sua mãe, Sislânia Oliveira, compartilha nas redes sociais as vitórias do pequeno e registra suas últimas sessões de quimioterapia. Em um vídeo, ela mostra Bryan arrastando uma mala e comemorando: “Só falta mais uma [sessão de quimio].”

Setembro é simbolizado pela cor dourada, que representa a campanha global de conscientização sobre o câncer infantojuvenil, alertando sobre a importância do diagnóstico precoce. Após a confirmação da doença, inicia-se um longo tratamento e, para acolher as famílias da melhor forma, a Secretaria de Saúde do Acre criou um espaço pediátrico dentro da Unacon.

Com profissionais qualificados e ambientes lúdicos e coloridos, o espaço visa amenizar o estresse das frequentes idas ao hospital, assegurando que as crianças preservem sua infância enquanto lutam contra a doença.

Sislânia recorda que seu marido teve um sonho em que um homem o alertava sobre a saúde do filho. “No dia seguinte, quando meu marido acordou, fui verificar e notei um caroço em seu abdômen, então fomos ao posto de saúde e diagnosticamos um tumor”, relembra.

Após a confirmação do diagnóstico, a família foi encaminhada à Fundação Hospital Estadual do Acre (Fundhacre) para cirurgia e biópsia. “No dia 6 de julho de 2023, recebi o diagnóstico de câncer e fiquei desesperada. Mas a Dra. Valéria sempre me dizia que não era o fim, que havia cura”, conta Sislânia, ressaltando a importância do acolhimento recebido durante o tratamento.

A pediatra oncologista Valéria Paiva, mencionada por Sislânia, é uma referência na área e relata que o serviço existe desde 2007, atendendo mais de 850 crianças. “Atualmente, temos 20 crianças em tratamento, mas todas permanecem em acompanhamento mesmo após 5 ou 10 anos. Os tipos mais comuns de câncer infantil são leucemia linfoide aguda, tumores cerebrais e linfomas, seguindo a mesma epidemiologia mundial”, explica.

Os pais devem estar atentos a sinais como anemia, palidez, manchas roxas inexplicáveis, dor de cabeça persistente, estrabismo e nódulos palpáveis. “No Acre, oferecemos tratamento com quimioterapia, cirurgia e radioterapia, sempre buscando o melhor. O câncer infantil é diferente do câncer em adultos: é mais agressivo, mas responde melhor à quimioterapia, com chances de cura que podem ultrapassar 85%, dependendo do diagnóstico precoce”, ressalta Valéria.

Para tornar o processo mais leve para pacientes e famílias, o ambiente lúdico é crucial. “Adaptamos o espaço para que as crianças se sintam mais confortáveis durante as internações. Criamos um ambiente colorido e divertido, relacionando o tratamento a brincadeiras e super-heróis”, enfatiza a médica.

Érica Araújo, de 12 anos, está em tratamento e deseja voltar à sua rotina normal. Ela, que é atleta de taekwondo e estudante, começou o tratamento em julho deste ano contra linfoma de Hodgkin. “Ter o tratamento em Rio Branco me trouxe alívio. É importante ter apoio por perto”, afirma.

Raissa Silva, de 25 anos, foi paciente da unidade aos 12 anos e, agora, é enfermeira na Unacom. Ela recorda que sua mãe sempre foi atenta à sua saúde, o que possibilitou um diagnóstico precoce. “Nunca tive medo da doença. Sempre acreditei na cura, pois fui atendida por uma equipe maravilhosa”, diz Raissa, que escolheu a enfermagem para ajudar outros pacientes.

Para tornar o tratamento mais acessível e menos intimidador, a técnica em radiologia Janini Negreiros teve a ideia de personalizar as máscaras termoplásticas usadas em radioterapia. Com cores e desenhos inspirados em super-heróis, as máscaras ajudam a minimizar o medo das crianças. “Conversamos com os pacientes sobre suas preferências e personalizamos as máscaras. Agora, alguns que antes precisavam ser sedados conseguem fazer o tratamento acordados, se sentindo como verdadeiros heróis”, conta Janini.

O oncologista Rafael Teixeira, gerente de assistência da Unacom, destaca a importância de um ambiente acolhedor durante o tratamento. “O câncer não afeta apenas a criança, mas toda a família. É fundamental que mantenhamos a esperança e o engajamento da família durante todo o processo. O acolhimento e as atividades lúdicas ajudam a enfrentar a doença e a melhorar os resultados do tratamento”, explica.

Os tratamentos de câncer são longos, e as crianças são acompanhadas por anos após os procedimentos. “Criamos vínculos com os pacientes, e as perdas são sentidas pela equipe e pelas famílias. Um ambiente adequado ajuda a minimizar o sofrimento”, complementa Teixeira, que também ressalta a importância de aceitar doações de livros, brinquedos e outros itens que podem ajudar a criar um ambiente mais agradável.

A conscientização sobre o câncer infantojuvenil deve ser contínua. Um evento de luta contra o câncer infantil acontecerá no dia 5 de outubro, no Horto Florestal, das 8h às 12h. Além disso, uma corrida está marcada para o dia 29 de setembro, começando no Quiosque do Coco às 6h30, para sensibilizar a população sobre a importância do diagnóstico precoce.

Para mais informações, o perfil da OncoPedAcre compartilha dados importantes e conquistas na área, e também promove atividades educativas para aumentar a conscientização e a detecção precoce do câncer infantil.

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