15 outubro 2024

Celular em sala de aula desafia rotina de professores, apontam pesquisadores

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Nesta terça-feira, Dia dos Professores, muitos educadores enfrentam um desafio que se tornou comum nas salas de aula: o uso constante de celulares por parte dos alunos. A cena é conhecida: após perguntas como “Alguém tem dúvidas?” ou “Querem que eu retome alguma ideia?”, o silêncio toma conta da sala. Ao olhar para os alunos, o professor percebe que, em vez de estarem atentos, muitos já trocaram os cadernos pelos celulares, imersos em outro mundo.

Esse cenário é um dos principais obstáculos para uma interação mais saudável em sala de aula, e muitos professores certamente gostariam de uma solução para lidar com o problema.

O Desafio dos celulares em sala de aula

Pesquisadores da educação concordam que o uso de celulares em sala é um dos maiores desafios para melhorar a qualidade das aulas. Eles alertam para a necessidade de oferecer capacitação e suporte aos professores para lidar com as tecnologias em sala de aula de forma eficaz.

Segundo o professor Gilberto Lacerda dos Santos, do Departamento de Educação da Universidade de Brasília (UnB), o trabalho do professor oscila entre preservar o conhecimento acumulado e, ao mesmo tempo, olhar para o futuro, integrando novas tecnologias de forma atrativa. Ele acredita que a formação inicial e continuada dos professores é a chave para enfrentar esse desafio, defendendo políticas públicas que garantam essa capacitação.

“A sala de aula não pode estar desconectada da realidade atual. Os professores precisam ser valorizados, pois eles são o cartão de visitas das instituições de ensino e têm a responsabilidade de formar os cidadãos”, afirma Lacerda dos Santos, que também é pesquisador visitante no Museu de História Natural da França, em Paris, onde estuda o desenvolvimento de tecnologias educativas. Ele observa que os desafios enfrentados no Brasil são semelhantes aos da Europa no que diz respeito ao uso da tecnologia em sala de aula.

O pesquisador Fábio Campos, do Laboratório de Aprendizagens Transformadoras com Tecnologia da Universidade de Columbia (EUA), também vê o celular em sala de aula como um grande desafio. Ele se refere ao fenômeno como uma “epidemia”, ressaltando que a simples proibição dos aparelhos não resolve o problema. “Precisamos ensinar a usar o celular de maneira mais produtiva em sala de aula, mas a situação chegou a tal ponto que, em alguns casos, a proibição se tornou necessária”, explica.

Campos destaca ainda que o aumento do uso de celulares em sala de aula está ligado a problemas crescentes de saúde mental, como ansiedade e depressão. Ele lamenta a falta de uma política nacional no Brasil para orientar o uso da tecnologia na educação, afirmando que, após a pandemia, o país ainda não investiu adequadamente nesse aspecto.

Riscos e regras para o uso de celulares

De acordo com a pesquisa TIC Educação, divulgada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) em agosto de 2024, seis em cada dez escolas de ensino fundamental e médio no país adotam regras para o uso de celulares pelos alunos, permitindo o uso apenas em horários e espaços determinados. Em 28% das instituições, o uso do aparelho é completamente proibido.

Além disso, um relatório de 2023 da Unesco sobre o papel das tecnologias na educação discutiu os riscos da exposição prolongada a telas, alertando para os malefícios relacionados à saúde mental e ao desenvolvimento cognitivo dos estudantes.

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