22 fevereiro 2025

Dona de creche pediu para funcionárias mentirem sobre menino que morreu após ter ficado quatro horas dentro de carro, diz delegado

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Salomão Rodrigues Faustino morreu depois de ficar trancado em carro, em Nerópolis — Foto: Reprodução/Redes sociais

Uma funcionária da creche em que Salomão Rodrigues Faustino frequentava, relatou em depoimento à Polícia Civil que a dona do local, Flaviane Lima, entrou em desespero e pediu que ela e outra funcionária mentissem quando percebeu que havia esquecido o menino dentro do carro por cerca de quatro horas, em Nerópolis, na Região Metropolitana de Goiânia.

Segundo o depoimento, antes de o Corpo de Bombeiros chegar ao local, a empresária pediu para que as duas falassem para os socorristas que a criança de 2 anos “estava dormindo no berçário” e quando foram olhar “Salomão estava roxo”. No entanto, as mulheres se recusaram a mentir.

g1 entrou em contato com a defesa de Flaviane Lima para que pudessem se pronunciar sobre o que foi dito pela funcionária em depoimento, mas o advogado preferiu não comentar.

Sobre o caso em si, o advogado Giovanni Caldas Vieira escreveu, em nota, que a empresária “está profundamente abalada, vivendo o pior momento de sua vida”. A defesa informou ainda que a mulher fez cursos em primeiros-socorros e que tentou salvar a criança. “Não houve qualquer intenção, qualquer descuido consciente ou negligência deliberada”, afirmou (leia a nota completa ao fim do texto).

Salomão foi encontrado sem vida na tarde de terça-feira (18). De acordo com a polícia, no dia em que o garoto morreu, a dona da creche, que era responsável por buscar e levar o menino até o local, o deixou no banco de trás do veículo, preso à cadeirinha.

Durante a audiência de custódia, realizada na quarta-feira (19), a empresária informou que, após chegar ao berçário, trabalhou normalmente e que só percebeu que a criança ainda estava no veículo quando foi para casa por conta de uma dor de cabeça.

“Quando eu abri o carro, o Salomão dobrou o corpinho dele na cadeirinha. Quando vi, desamarrei rápido da cadeirinha e levei ele para dentro. A gente ligou para os bombeiros. Eu tentei fazer os primeiros socorros, mas a gente percebeu ali que ele já não estava mais”, disse Flaviane Lima.

 

No entanto, a funcionária contou para a polícia que sentiu falta do menino na sala e que perguntou para Flaviane, por volta das 16h45, porque ele não estava presente no berçário. Ainda de acordo com o depoimento, a empresária saiu com o objetivo de ir embora e retornou cinco minutos depois com Salomão no colo, o qual estava “mole e todo roxo”.

Em seguida, a empresária colocou a criança na pia e jogou água no resto do menino, tentando reanimá-lo. Conforme o depoimento, Flaviane disse: “O que vai ser da minha vida, a mãe da criança vai me matar, como que esqueci ele dentro do carro”.

A funcionária relatou que acompanhou a criança na viatura dos bombeiros até o socorro no hospital e que a dona da creche permaneceu no local, pois “ficou com medo de encontrar a família de Salomão”. A criança foi levada até o Hospital Sagrado Coração de Jesus, mas não resistiu.

Em entrevista à TV Anhanguera, o delegado responsável pelo caso, André Fernandes, mencionou que embora a empresária tenha omitido o que realmente aconteceu com a criança, isso não interfere na investigação.

“Primeiro foi apresentado uma versão e depois outra. Essa segunda versão foi a que realmente todos os funcionários foram unânimes em informar que na realidade houve o esquecimento”, ressaltou.

 

A dona da creche foi presa no mesmo dia. Segundo o delegado, a empresária tentou fugir, mas foi detida em Itaberaí, a 80 quilômetros de Nerópolis. Flaviane foi encaminhada ao Complexo de Prisão Provisória de Aparecida de Goiânia, onde permanece presa.

Família desolada

 

Salomão Faustino, que morreu após ser esquecido dentro de carro por dona de creche, e a mãe Giselle Faustino, em Goiás — Foto: Reprodução/Redes sociais de Giselle Faustino

Salomão Faustino, que morreu após ser esquecido dentro de carro por dona de creche, e a mãe Giselle Faustino, em Goiás — Foto: Reprodução/Redes sociais de Giselle Faustino

Durante o velório realizado na quarta-feira (19), os familiares da criança estavam visivelmente abalados. A tia ressaltou que, inicialmente, os parentes não haviam sido informados da gravidade do caso. Ela destacou ainda que a família precisa de respostas e clama por justiça.

“A gente recebeu a notícia que ele teria se machucado na creche e que era para os familiares irem para o hospital porque precisava acompanhar”, mencionou Andréa Milhomen, tia do menino, em entrevista à TV Anhanguera.

 

A mãe de Salomão, Giselle Faustino, precisou ser amparada pelo Corpo de Bombeiros, durante a despedida do pequeno. Em publicação nas redes sociais, ela disse que está se sentindo em um pesadelo e não sabe como irá viver sem o filho. “Você levou todo meu coração e minha alegria”, escreveu.

Ela lamentou ter vivido com o filho por tão pouco. O menino havia completado 2 anos no dia 5 de fevereiro, pouco menos de duas semanas antes de sua partida.

“Como eu chegarei em casa agora e não presenciarei sua alegria?! (…) Eu não consigo fechar o olho sem imaginar seu sofrimento. Perdoa a mamãe, meu amor. Eu queria fazer tanto por você”, declarou Giselle.

 

Nota da defesa

 

É fundamental lembrar que estamos diante de uma perda irreparável. Uma criança perdeu a vida, e isso é algo devastador para todos os envolvidos. Deixamos nossos sentimentos, em especial, aos familiares. A cidade de Nerópolis está em silêncio, é possível sentir nas ruas o peso e a dor do ocorrido.

Minha cliente, trabalha com crianças e jovens há anos, sempre foi uma pessoa responsável e cuidadosa e , está profundamente abalada, vivendo o pior momento de sua vida. A creche conta com registro do cadastro de pessoa jurídica e alvarás de funcionamento.

Minha cliente preza pela preparação, tendo cursos na área de pedagogia e primeiros socorros. Justamente para estar preparada para qualquer emergência. Não houve qualquer intenção, qualquer descuido consciente ou negligência deliberada. Assim que percebeu o que havia acontecido, em completo desespero, tentou reanimar a criança e buscou socorro imediato dos bombeiros. Infelizmente, o pior já havia ocorrido.

Não há a tentativa de se esquivar da responsabilidade. No momento da prisão em flagrante pela polícia minha cliente estava, na companhia de seu companheiro, a caminho do distrito policial para se apresentar. Confiamos na investigação em andamento pela Policia Civil e na atuação da Justiça.

A família da minha cliente informa que a creche não foi aberta hoje e provavelmente não voltará a abrir, em vista do abalo emocional. Infelizmente um acidente devastador para todos, fazendo vítimas em todas as famílias envolvidas.

POR  g1 Goiás.

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