19 março 2025

Doenças ligadas à falta de saneamento causaram mais de 340 mil internações em 2024

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Imagem via Agência Brasil.

Em 2024, o Brasil registrou mais de 344 mil internações devido a doenças associadas à falta de saneamento básico. Dentre esses casos, 168,7 mil estavam ligados a infecções transmitidas por insetos vetores, como a dengue, enquanto 163,8 mil foram causados por doenças de transmissão feco-oral, como gastroenterites virais, bacterianas ou parasitárias.

Os dados fazem parte de um estudo do Instituto Trata Brasil, divulgado nesta quarta-feira (19), em antecipação ao Dia Mundial da Água, celebrado em 22 de março. Apesar do elevado número de hospitalizações – quase 950 por dia -, os registros vêm caindo em média 3,6% ao ano desde 2008.

A incidência dessas internações varia consideravelmente entre as regiões do país. Em 2024, o Centro-Oeste liderou em hospitalizações, com taxa de 25,5 casos por dez mil habitantes, impulsionada pelo surto de dengue. Já a Região Norte apresentou a maior incidência de doenças de transmissão feco-oral, com 14,5 casos por dez mil habitantes, o dobro da média nacional.

Entre os estados mais afetados, destacam-se o Amapá (24,6 internações por dez mil habitantes) e Rondônia (22,2 por dez mil habitantes). No Nordeste, a incidência geral foi próxima à média do país, mas a taxa de transmissões feco-orais foi a segunda maior do Brasil, com 12,6 internações por dez mil habitantes. No Maranhão, a situação foi ainda mais grave, com taxa de 42,5 casos por dez mil habitantes, seis vezes acima da média nacional.

Impacto social e grupos mais vulneráveis

As doenças relacionadas ao saneamento atingem com mais força populações de menor renda e vulnerabilidade social. Em 2024, 64,8% das internações foram de pessoas pretas ou pardas. Indígenas, embora representem apenas 0,8% dos casos totais, tiveram uma incidência de 27,4 internações por dez mil habitantes, bem acima da média geral.

Os extremos de idade também estão entre os mais afetados. Aproximadamente 70 mil internações foram de crianças de até 4 anos, representando 20% do total. A taxa de incidência para essa faixa etária foi de 53,7 casos por dez mil habitantes, três vezes acima da média populacional.

Entre os idosos (acima de 60 anos), a incidência foi de 23,6 casos por dez mil habitantes, com cerca de 80 mil hospitalizações, equivalendo a 23,5% do total registrado no ano.

O Instituto Trata Brasil estima que a ampliação do acesso a água tratada e ao tratamento adequado de esgoto poderia reduzir em até 70% as taxas de internação por doenças associadas ao saneamento. Isso representaria uma economia de R$ 43,9 milhões por ano ao sistema de saúde.

Mortalidade relacionada ao saneamento

O estudo também analisou a mortalidade causada por essas doenças, comparando os números de 2024 com os de 2023. No ano passado, foram registradas 11.544 mortes associadas às doenças ligadas ao saneamento precário. As infecções feco-orais responderam por 5.673 óbitos, enquanto doenças transmitidas por insetos causaram 5.394 mortes.

Apesar de uma redução gradual desde 2008, em 1.748 municípios a taxa de mortalidade relacionada ao saneamento cresceu no período. Em 2023, 76% das mortes foram de idosos, totalizando 8.830 óbitos.

Entre os povos indígenas, a taxa de mortalidade foi quatro vezes superior à da população em geral, apesar do menor número absoluto de casos em comparação a outros grupos étnicos.

Os dados reforçam a importância do investimento em infraestrutura de saneamento para a redução de doenças, hospitalizações e mortes, melhorando a qualidade de vida da população brasileira.

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