13 junho 2025

Acre lidera destruição de áreas arqueológicas no Brasil com quase 90% de perda de mata nativa

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Foto: Ricardo Azoury

O estado do Acre, tradicionalmente reconhecido por sua rica biodiversidade e importância para a preservação da Amazônia, enfrenta agora uma alarmante realidade: é o estado que mais destruiu áreas arqueológicas em todo o Brasil. Dados recentes apontam que aproximadamente 90% da vegetação nativa que recobria sítios arqueológicos já foi eliminada, colocando em risco não apenas o meio ambiente, mas também um acervo histórico de valor inestimável.

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Essas áreas, muitas delas ainda pouco estudadas, contêm registros milenares da presença humana na região, como geoglifos, vestígios de aldeias antigas e artefatos que ajudam a compreender as culturas que habitaram o território acreano muito antes da chegada dos colonizadores europeus. No entanto, essas riquezas estão sendo rapidamente apagadas do mapa pela expansão descontrolada da fronteira agrícola.

Segundo especialistas, a transformação dessas áreas em pastagens para criação de gado e em grandes lavouras de soja tem ocorrido de forma acelerada e, muitas vezes, sem o devido respeito às legislações ambientais e patrimoniais. “O que estamos perdendo vai muito além da vegetação. Estamos perdendo história, identidade e oportunidades de compreender melhor o passado da Amazônia”, afirmou um arqueólogo ligado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), que preferiu não se identificar.

Entre os maiores impactos está a destruição dos geoglifos — desenhos geométricos gigantes esculpidos no solo que só podem ser vistos por completo do alto. Esses geoglifos são uma das maiores evidências da ocupação humana pré-colombiana na região e já foram reconhecidos internacionalmente por sua importância arqueológica. Muitos desses sítios vêm sendo literalmente arados por tratores e cobertos por monoculturas, sem qualquer tipo de estudo ou resgate prévio.

A legislação brasileira determina que qualquer intervenção em áreas que possam conter vestígios arqueológicos deve ser precedida de um estudo técnico e autorização do IPHAN. No entanto, o que se observa em grande parte do território acreano é o descumprimento dessa regra. A fiscalização, por sua vez, é limitada pela falta de estrutura dos órgãos responsáveis e pela pressão constante do agronegócio.

Organizações ambientais e universidades da região têm tentado chamar a atenção para o problema, promovendo estudos, expedições e campanhas de conscientização. Contudo, os recursos para esse tipo de pesquisa são escassos e muitas vezes insuficientes para acompanhar o ritmo da devastação. “Estamos travando uma batalha desigual. Os interesses econômicos estão se sobrepondo ao valor científico e cultural dessas áreas”, disse um professor da Universidade Federal do Acre (UFAC).

Outro ponto que agrava o cenário é a dificuldade em integrar o desenvolvimento econômico com a preservação do patrimônio histórico. Apesar do discurso de sustentabilidade adotado por muitas empresas do setor agrícola, na prática, a expansão acontece com pouca ou nenhuma preocupação com os impactos sociais e culturais.

Diante dessa situação, pesquisadores e ativistas cobram uma ação mais efetiva do poder público. Eles pedem a criação de políticas específicas para proteger as áreas arqueológicas do Acre e reforçam a necessidade de investir em educação patrimonial, para que a população local compreenda o valor dessas descobertas e participe da sua proteção.

A destruição de áreas arqueológicas não é apenas uma perda para o Acre, mas para toda a humanidade. Cada pedaço de terra que é tomado pelo agronegócio sem estudos adequados pode estar encobrindo segredos de civilizações antigas que nos ajudariam a entender a história da Amazônia e dos povos originários. O tempo está contra os defensores da memória ancestral do estado, e a urgência em proteger o que resta se torna cada vez maior.

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