
Enquanto o Brasil celebra neste domingo (24) o Dia da Infância — data instituída pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) para promover a reflexão sobre os direitos e o bem-estar de crianças e adolescentes — o estado do Acre enfrenta uma realidade alarmante. Levantamentos recentes revelam que o estado concentra alguns dos piores indicadores do país em áreas essenciais como saneamento, educação, acesso à água e renda familiar.
De acordo com estudo do Unicef baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgado no início deste ano, 12,7% das crianças e adolescentes no Acre vivem sem acesso à água encanada, o maior índice entre todos os estados brasileiros. Além disso, 31,5% das residências onde vivem menores de idade não possuem saneamento básico adequado, colocando em risco a saúde e o desenvolvimento dessas crianças e adolescentes.
A situação se agrava ao observar os dados sobre pobreza multidimensional, que considera diferentes aspectos da vida além da renda. Conforme o relatório “Pobreza Multidimensional na Infância e Adolescência no Brasil”, também do Unicef, 83,9% das crianças e adolescentes acreanos viviam em situação de privações em 2022. No ano seguinte, os dados revelaram uma dura configuração:
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18,6% com privação de educação
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14,1% sem acesso à informação
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2,4% em situação de trabalho infantil
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18,1% vivendo em moradias inadequadas
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22,2% sem acesso à água de qualidade
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68,9% sem saneamento adequado
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38,3% em domicílios com privação de renda
Esses números refletem a ausência de políticas públicas eficazes e investimentos estruturais que garantam direitos fundamentais à infância.
A educação infantil também se mostra uma das áreas mais frágeis no estado. O Censo Demográfico 2022 revelou que apenas 68,98% das crianças de 4 a 5 anos frequentam a escola, índice inferior à média nacional e à frente apenas do Amapá. A taxa de frequência escolar sobe entre crianças de 6 a 14 anos (96,65%), mas volta a cair entre os adolescentes de 15 a 17 anos, com 81,44%.
Outro desafio é o registro civil de nascimento. Apesar de avanços, cerca de 1.312 crianças de até 5 anos no Acre ainda não possuem registro oficial, conforme dados do Censo 2022 do IBGE. Esse contingente representa cerca de 1,5% do total e impede o pleno acesso dessas crianças a direitos básicos como saúde, educação e assistência social.
Diante desse cenário, o Dia da Infância no Acre não é apenas uma data para celebrar — mas um chamado à ação. A proteção e o desenvolvimento das crianças acreanas dependem do compromisso contínuo de governos, sociedade civil e instituições, para que a infância seja, de fato, uma etapa segura, digna e com oportunidades para todos.






