6 dezembro 2025

COP30: Brasil busca liderança climática global em meio a crise de infraestrutura

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O Brasil se prepara para receber a maior conferência climática do planeta: a COP30, marcada para novembro de 2025 em Belém, no Pará. O evento deve reunir mais de 50 mil pessoas, entre chefes de Estado, negociadores e ativistas, colocando a Amazônia no centro das discussões sobre o futuro do clima. Enquanto especialistas destacam o simbolismo de realizar a cúpula na floresta, problemas de logística e infraestrutura ainda colocam em dúvida a capacidade do país de transformar a conferência em um marco histórico.

Ao portal LeoDias, o economista ambiental Alessandro Azzoni avalia que o evento terá um caráter único na história das conferências climáticas da ONU. Segundo ele, esta COP se diferenciará das demais diante de três pilares fundamentais: a influência do Brasil na agenda climática global; o compromisso brasileiro de cortar de 59 a 67% das emissões até 2035 e atingir a neutralidade climática até 2050; e a atração de investimentos e tecnologias sustentáveis, que podem transformar a floresta em uma “plataforma de oportunidades”.

Veja as fotosAbrir em tela cheia Obras da COP30 em Belém, no ParáFoto: Augusto Miranda/Agência Pará Economista ambiental, Alessandro AzzoniReprodução: Instagram/@aleazzoni Logo da COP30Divulgação: Internet COP 30Reprodução: Internet “Vou ter a gentileza de ligar para o Trump”, declara Lula sobre a COP30Reprodução: YouTube/Canal Gov Ministro do Turismo, Celso Sabino, afirmou que entrou em contato com a OEI para republicação do edital da COP30 com pratos típicos da culinária paraenseReprodução: Instagram @celsosabinooficial/ Estúdio Gastronômico/Irene Almeida Diário do Pará/Divulgação

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“A COP30 no Brasil vai ter um cenário de fundo que é a floresta de pé. Ou seja, vai ter uma discussão sobre as proteções ambientais, mudanças climáticas com o fundo de uma floresta amazônica, que a gente chama de floresta de pé. Isso trará prática às discussões globais com esse foco, a relevância da preservação da floresta tropical para o equilíbrio climático mundial. Isso é um dos pontos que pode reforçar muito essa questão do papel brasileiro nessa COP”, destacou, reforçando também que o país seguirá como uma vitrine na plataforma de investimentos. “Estamos buscando novas alternativas de energias limpas, inovação tecnológica e a prática sustentável. Isso é correlacionado com parcerias com os próprios bancos multilaterais e agentes financeiros globais”.

Segundo ele, a escolha de Belém como sede dá ao Brasil uma vantagem estratégica: o pano de fundo da floresta Amazônica.

Metas climáticas e mercado de carbono
Azzoni destacou ainda o papel da NDC brasileira (Contribuição Nacionalmente Determinada), alinhada ao Acordo de Paris, que estabelece os cortes de emissões até 2035 e a neutralidade em 2050. Para ele, o avanço depende de tecnologia limpa, inovação e instrumentos de mercado: “Toda a conferência deverá, eu acredito, atuar como um celeiro de soluções. Eu vejo essa conexão que vai ser colocar nessa COP justamente uma ambição climática com investimentos, inovação, capacitação. Eu acredito muito no cumprimento desse acordo de Paris”, avaliou.

Além disso, segundo ele, a COP30 também deve ser decisiva no fortalecimento do mercado de créditos de carbono, tanto no Brasil quanto no exterior. “Deve dar uma contribuição muito forte nessa integração e expansão desses mercados globais do crédito de carbono, permitindo que os países e empresas negociem esses créditos, aqueles que detém a redução das suas emissões e foram detentores”, explicou. Ele destacou ainda que o Brasil deve propor uma coalizão internacional com União Europeia e China, sob supervisão da ONU, para garantir integridade nos mecanismos e evitar práticas de “greenwashing”.

O especialista lembrou que o país já aprovou o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), que entrará em vigor a partir de 2027, além de mecanismos tributários para desestimular produtos poluentes. “

No entanto, Alessandro alerta que a recente flexibilização da lei de licenciamento ambiental pode gerar insegurança jurídica. “Isso pode ser uma pressão muito grande interna inclusive de questionamento no próprio STF sobre essas medidas. Lembrando que a nossa constituição tem os seus princípios intrínsecos e, dentro deles, nós temos o princípio de não retrocesso ambiental. Isso pode ser avocado no STF sobre essa lei de licenciamento e com isso pode dar um pouco de insegurança jurídica”, concluiu.

Crise logística em Belém e desafios
Apesar do simbolismo, o evento enfrenta críticas severas. A principal delas é a hospedagem inflacionada, com hotéis e imóveis chegando a cobrar até US$ 700 por noite – alguns Airbnb’s pedem US$ 9.300 por diária. A ONU classificou a situação como “crise de acessibilidade”, já que mais de 50 mil pessoas são esperadas.

Por conta disso, 25 países pediram oficialmente que o evento fosse transferido de cidade. O governo, porém, rejeitou a ideia, afirmando que “não há plano B”.

Segundo Alessandro, os desafios começam na logística: “Apesar da cidade de Belém ter esse fundo na Floresta Amazônica, já começou a dar problemas na questão da capacidade de acomodar essas pessoas, o custo da alimentação para os delegados, especialmente para países que têm desenvolvimento. Já pediram para o Brasil aumentar a questão da participação, mas lembrando que o país não pode gastar muito porque já está com um problema de desequilíbrio fiscal”, avaliou.

Outro aspecto que pode gerar embaraço ao país, segundo o economista, está na governança ambiental. Ele lembrou a recente lei do licenciamento ambiental que, para ele, facilita “o projeto de infraestrutura, exploração de petróleo, a questão da mineração, inclusive nas regiões amazônicas”. Segundo o economista, a possibilidade de autodeclaração para empreendimentos de médio impacto pode colocar em risco a questão dos danos ambientais. “Isso mostra uma fragilidade do Brasil estar sediando uma COP, buscando alternativas de proteções ambientais, mudanças climáticas e nós estamos com uma lei recém aprovada que flexibiliza muito essa questão do licenciamento ambiental no nosso país”.

O economista também ressaltou a importância da inclusão das populações locais no processo preparatório da conferência. “Há uma tentativa de ampliar a participação de comunidades tradicionais, quilombolas e jovens mulheres, para que tenham voz nas discussões climáticas”, disse. Para ele, essa presença não deve se restringir a ganhos financeiros: “Essa inclusão eu acredito ser uma busca justamente para que essa população local não fique somente no quesito de buscar retornos financeiros mas, sim, um engajamento nas questões ambientais. Mas em resumo eu posso dizer que a COP vai depender muito da capacidade do Brasil superar toda essa questão dos altos custos de acomodação”.

Como solução, o Brasil promete trazer navios de cruzeiro com 6 mil leitos, hotéis modulares e até escolas adaptadas como hospedagem. O Itamaraty também prepara reservas a preços subsidiados entre US$ 100 e 600 para delegações mais vulneráveis.

No final das contas, COP30 pode consolidar o Brasil como líder climático global, mas a falta de infraestrutura ameaça o sucesso do evento. Portanto, será preciso gerar credibilidade por meio de participação inclusiva. Mas, se as condições logísticas seguirem excludentes, o evento pode sofrer deslegitimação.

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