6 dezembro 2025

Crítica: “O Agente Secreto” é o thriller tropical que o Brasil precisava encarar

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Podemos dizer que o mais recente trabalho de Kleber Mendonça Filho não é apenas um filme, mas sim uma obra de arte que precisa ser apreciada. “O Agente Secreto” é, sem dúvidas, um evento cinematográfico digno de toda a aclamação unânime que tem recebido, tornando seus pequenos problemas quase imperceptíveis.

Ambientado no Recife (PE) de 1977, o longa mergulha o público em um thriller político tenso, que se desenrola em meio ao Carnaval e sob a sombra da ditadura militar. Diferentemente do que foi visto no brilhante e premiado “Ainda Estou Aqui”, desta vez temos uma nova visão sobre um tema que continua sendo uma ferida aberta na história do país.

Veja as fotosAbrir em tela cheia Tânia Maria, a dona Sebastiana do filme “O Agente Secreto”Divulgação / Vitrine Filmes Ator Wagner Moura no filme “O Agente Secreto”Reprodução / YouTube Cena do filme “O Agente Secreto”Reprodução Ator Wagner Moura no filme “O Agente Secreto”Reprodução “O Agente Secreto” estreará no Brasil em 6 de novembroDivulgação

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Kleber conseguiu criar uma atmosfera enigmática e envolvente, que transporta o espectador para a época retratada e torna tudo ainda mais impressionante ao longo de suas 2 horas e 40 minutos. É até difícil perceber o tempo passar, justamente pela forma como a jornada fica cada vez mais empolgante.

A “memória escura do Brasil” apresentada aqui traz um forte ponto político e social, abordando de maneira pungente as cicatrizes do racismo e os abusos de autoridade legitimados pela ditadura. A direção mostra maestria ao misturar o suspense e a perseguição com elementos do Folclore local e do absurdo, tudo dialogando com “Retratos Fantasmas” (2023), documentário do diretor.

Outro detalhe que impressiona os fãs de cinema é o perfeccionismo de Kleber ao usar referências de grandes clássicos, como “Tubarão” (1975), de Steven Spielberg. A equipe de fotografia, comandada pela russa Evgenia Alexandrova, radicada na França, é espetacular.

Utilizando tons amarelados e uma textura levemente granulada, o filme passa a sensação de ter sido realmente gravado nos anos 1970. Em contrapartida, as cenas intercaladas com tempos mais atuais mostram-se um tanto descartáveis, ainda que contribuam para o contexto geral da narrativa.

Elenco de “O Agente Secreto” é um show à parte
O protagonista Marcelo, vivido por Wagner Moura, entrega uma performance grandiosa, digna de sua trajetória. Após 12 anos sem atuar em português, o ator demonstra total domínio e carisma em um dos trabalhos mais intensos de sua carreira.

Premiado como Melhor Ator no Festival de Cannes, Moura desponta como forte candidato ao Oscar 2026, em uma disputa que promete ser acirrada. O personagem parece ter sido escrito pensando nele, uma escolha perfeita de Kleber para esse trabalho gigante.

A troca com o elenco de apoio é eficaz e sustenta a complexidade do enredo que é apresentado em suas quase três horas. O delegado Euclides (Robério Diógenes), símbolo da violência estatal, é um dos destaques entre os grandes nomes escalados para a trama.

Apesar das participações menores, Maria Fernanda Cândido (Elza) e Alice Carvalho (Fátima) brilham em momentos intensos. A primeira encarna uma mulher misteriosa que ajuda o protagonista em uma missão arriscada, trazendo suspense e profundidade.

Alice reafirma seu talento como uma das maiores atrizes de sua geração, protagonizando uma das cenas mais fortes do longa. Já Tânia Maria (Sebastiana), de 77 anos, é um espetáculo à parte, um alívio cômico natural e encantador que conquista o público a cada aparição. Ela tem sacadas geniais, que faz qualquer um torcer para que a personagem tenha ainda mais tempo de tela.

Bobbi (Gabriel Leone), por sua vez, é um personagem ambíguo e sombrio, cuja frieza ao cometer crimes ao lado de Augusto (Roney Villela) adiciona camadas de tensão à trama.

Trilha sonora e som: a alma do filme
O trabalho de som, produzido em Amsterdã, na Holanda, é impecável. Kleber foi certeiro ao apostar na brasilidade como essência da trilha sonora de “O Agente Secreto”, que será lançada também em vinil.

Por se passar durante o Carnaval, o frevo tem papel central, contrastando de forma brilhante com o tom denso do filme. Faixas como “Não Há Mais Tempo”, “Harpa dos Ares”, “Trilha de Sumé / Culto à Terra / Bailado das Muscarias” e “A Briga do Cachorro com a Onça” compõem o repertório vibrante.

“O Agente Secreto” é uma celebração do talento nacional, e não perde o brilho mesmo com seu final polêmico e intragável. Kleber deve colher mais um sucesso internacional, acumulando prêmios até uma provável indicação ao Oscar nos próximos meses.

As pré-estreias já estão acontecendo pelo Brasil, e o lançamento oficial está marcado para 6 de novembro.

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