7 dezembro 2025

Facções criminosas ampliam desmatamento e colocam Amazônia no centro da crise climática, aponta relatório

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Foto: Divulgação/Imazon

O avanço das facções criminosas sobre a Amazônia está acelerando o desmatamento e ampliando a crise climática global, segundo um novo relatório que será apresentado nesta terça-feira (11) durante a COP30, em Belém (PA). O documento revela que o crime organizado se tornou um dos principais motores da destruição ambiental na região, atuando em atividades ilegais que vão desde o garimpo até o tráfico de drogas e armas.

O estudo, intitulado “Relatório de Avaliação da Amazônia 2025: Conectividade da Amazônia para um Planeta Vivo”, foi elaborado pelo Painel Científico para a Amazônia (SPA), com coordenação da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da ONU (SDSN). A iniciativa reúne cientistas, lideranças indígenas e representantes da sociedade civil de diferentes países amazônicos.

De acordo com o relatório, a relação entre o crime ambiental e a crise climática é tão profunda que o tema passou a integrar oficialmente a Agenda de Ação da Convenção do Clima, influenciando as discussões e políticas da conferência.

“Há anos defendemos que o crime ambiental precisa ser tratado como questão central nas conferências do clima. Essa é uma luta antiga do Instituto Igarapé, que trabalha desde 2019 para incluir o tema nas agendas internacionais”, afirmou Ilona Szabó, coautora do estudo e presidente do instituto.

O documento também faz referência ao texto “Chamado à Ação sobre Manejo Integrado do Fogo e Resiliência a Incêndios Florestais”, divulgado na cúpula de líderes que antecedeu a COP30. Nele, países e organizações pedem maior transparência, troca de informações e cooperação internacional para combater as redes criminosas que financiam queimadas e desmatamento em larga escala.

O levantamento mostra que, na Amazônia, facções criminosas utilizam a degradação ambiental como parte de suas estratégias econômicas e territoriais. As organizações estão envolvidas em garimpo clandestino, extração ilegal de madeira, tráfico de drogas, armas e animais silvestres, além de exploração de trabalho análogo à escravidão.

Essas atividades são usadas para lavagem de dinheiro e controle de rotas estratégicas dentro da floresta. No Pará, por exemplo, o Comando Vermelho (CV) tem atuação documentada em garimpos ilegais e no transporte de drogas e madeira pela rodovia Transamazônica. No Amazonas, investigações revelam que o grupo usa o rio Solimões como rota de tráfico, escondendo cocaína em cargas de pescado. Já em estados como Acre e Rondônia, fazendas griladas são utilizadas como depósitos de drogas e pontos de apoio logístico.

O relatório também menciona a atuação do Primeiro Comando da Capital (PCC) em esquemas de “narcogarimpo” — uma combinação de mineração ilegal com o tráfico de drogas e armas em áreas isoladas da floresta.

Um dos pontos mais alarmantes do estudo é o impacto humano dessas atividades. O documento dedica um capítulo à crise na Terra Indígena Yanomami, onde o garimpo ilegal provocou níveis de contaminação por mercúrio até 20 vezes acima do limite permitido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), resultando em danos neurológicos irreversíveis em parte da população local.

Segundo os autores, o fortalecimento do combate ao crime ambiental é essencial para conter o colapso ecológico e social na Amazônia. “A floresta e as comunidades que nela vivem estão sob ataque. Enfrentar as redes criminosas é também uma forma de proteger o clima do planeta”, conclui o relatório.

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