25 dezembro 2025

Especialista alerta para avanço da misoginia e falta de informação que impede mulheres de buscar ajuda

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Foto: Kat Jayne/Pexels

Os recentes casos de violência extrema contra mulheres no Brasil expõem um retrocesso preocupante no comportamento social e um fortalecimento da misoginia. É o que afirma Dulce Xavier, coordenadora do curso de Promotoras Legais Populares e referência no enfrentamento à violência de gênero. Em entrevista ao Conexão BdF, ela destacou que episódios como os registrados nos últimos dias evidenciam a visão patriarcal que ainda tenta colocar mulheres em posição de submissão — uma lógica estrutural presente na sociedade brasileira.

Casos recentes reacendem debate

No sábado (29), em São Paulo, Taynara Souza Santos, de 31 anos, foi atropelada e arrastada por mais de um quilômetro pelo ex-namorado, após recusar-se a conversar com ele. Ela passou por cirurgias e teve as pernas amputadas. O agressor foi preso no dia seguinte.

Na sexta-feira (28), no Rio de Janeiro, duas servidoras do Cefet foram assassinadas a tiros por um colega que não aceitava receber ordens de uma mulher. Em seguida, ele tirou a própria vida.

Para Xavier, esses episódios revelam um padrão de violência crescente e reforçam a necessidade urgente de políticas eficazes de prevenção e acolhimento.

Falta de divulgação dificulta acesso a serviços

Apesar das políticas públicas criadas após a Lei Maria da Penha, muitas mulheres ainda desconhecem os serviços que oferecem apoio psicológico, social e jurídico.

“Temos pouca divulgação dos serviços existentes”, explica Xavier. Ela lembra que centros especializados municipais ajudam a vítima antes mesmo de um boletim de ocorrência, mas o medo de retaliação ainda impede muitas mulheres de procurar ajuda.

A coordenadora reforça a importância do Disque 180, canal gratuito que funciona 24 horas para denúncias e orientação. “É fundamental para que a mulher saiba onde buscar apoio na sua cidade.”

Redes sociais alimentam discurso de ódio

Xavier também aponta o papel das redes sociais na propagação da misoginia. Para ela, ambientes digitais têm amplificado pensamentos violentos, especialmente entre grupos jovens influenciados por movimentos como os redpills, que defendem a submissão feminina.

“O alcance das redes sociais é muito maior que o das campanhas presenciais. Muitos adolescentes e jovens entram em contato com conteúdos misóginos sem nenhum filtro”, afirma.

Machismo atinge diferentes espaços

A violência contra mulheres não ocorre apenas dentro de casa. Segundo Xavier, ela também aparece no ambiente político, onde vereadoras, deputadas e outras representantes parlamentares sofrem tentativas constantes de silenciamento.

“Em todos os espaços vemos tentativas de cercear a voz das mulheres”, destaca.

A especialista reforça que o feminicídio é o desfecho de um ciclo que geralmente começa com agressões psicológicas, morais ou patrimoniais.
“A violência que mata começa com a violência que não deixa marcas”, afirma.

Educação e regulamentação das plataformas digitais são essenciais

Para reverter o cenário, Xavier defende ações estruturais: educação desde a infância para promover igualdade de gênero e regulamentação das plataformas digitais para limitar a atuação de grupos que incentivam o ódio.

Ela também destaca o trabalho das Promotoras Legais Populares, projeto presente em várias cidades do país. O curso, gratuito, capacita mulheres para entender seus direitos, acessar serviços públicos e orientar vítimas de violência.

“Queremos formar multiplicadoras, que levem informação e acolhimento para outras mulheres”, explica.

Onde acompanhar o debate

O Conexão BdF, que trouxe a entrevista completa, vai ao ar de segunda a sexta, às 9h e às 17h, na Rádio Brasil de Fato (98.9 FM na Grande São Paulo), também com transmissão pelo YouTube.

A discussão reforça que o combate à violência contra a mulher exige políticas públicas, educação e mobilização contínua — e que o avanço da misoginia precisa ser enfrentado de forma firme e urgente.

Com informações via brasildefato.com.br

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