Os números não mentem. Sena Madureira, com pouco mais de 44 mil habitantes, carrega hoje um dos cenários sociais mais desafiadores de sua história: quase 70% da população depende diretamente do Bolsa Família e mais de 82% está inscrita no Cadastro Único, indicador de vulnerabilidade social. Isso significa, na prática, que a cada dez moradores, oito precisam de algum tipo de amparo do Estado para sobreviver.
Nos últimos dias, um agropecuarista da cidade afirmou nos meios de comunicação que o agronegócio é “muito bom para Sena Madureira”, reforçando o discurso tradicional de que o setor rural seria o grande motor da economia local. Mas diante dos dados oficiais, surge uma pergunta inevitável:
bom para quem? E em que medida isso se reflete na vida da população?
A agropecuária realmente tem força. Gera alguns empregos, movimenta a cadeia de produção rural, abastece mercados e contribui para a arrecadação. Mas é preciso ser honesto: não é ela que coloca comida na mesa da maior parte das famílias da cidade. Não é ela que faz circular R$ 6,5 milhões por mês no comércio. Não é ela que paga as contas de quem vive no bairro Ana Vieira, na Vitória, na Pista, na São Francisco ou na Taumaturgo.
Quem faz isso é o Bolsa Família.
E é aqui que está a reflexão necessária: como um município com fazendas, gado, produção rural e empresários de grande porte consegue, ao mesmo tempo, ter uma população tão dependente de assistência social?
A resposta é dura, mas precisa ser dita:
a riqueza produzida no campo não está se transformando em prosperidade coletiva.
Ela se concentra. Ela se tranca nas porteiras. Ela não chega aos lares da maior parte do povo.
Enquanto isso, discursos prontos continuam sendo repetidos — às vezes por quem nunca precisou enfrentar uma fila do CRAS, nunca teve o CadÚnico como única porta de acesso a direitos, e nunca viveu a incerteza de como fechar o mês.
Este editorial não busca atacar o produtor rural. Ao contrário: reconhece a importância do campo. Mas é preciso admitir que, sozinho, ele não está sendo capaz de gerar desenvolvimento humano, distribuição de renda e dignidade para a população.
E talvez o maior desafio de Sena Madureira, daqui para frente, seja justamente esse: transformar potencial econômico em bem-estar social.
Enquanto isso não acontecer, os dados continuarão mostrando uma verdade incômoda:
o que realmente sustenta a economia de Sena Madureira não é o agronegócio. É o povo pobre.
E isso deveria constranger, não orgulhar.
Que os próximos números sirvam não para estatísticas, mas para reflexão — e mudança.







