24 dezembro 2025

Sem roupa vermelha nem gorro: Papai Noel com chifres assusta e encanta em cidade de Santa Catarina

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Pelznickels de Guabiruba, SC — Foto: David T. Silva/Amplitude Comunicação/Divulgação

Em Guabiruba, pequena cidade do Vale do Itajaí com cerca de 24,5 mil habitantes, o Natal é celebrado de um jeito bem diferente. Lá, o Papai Noel não usa roupa vermelha nem carrega presentes. Quem anuncia a chegada da data são figuras misteriosas que surgem da mata, vestidas com folhas, trapos escuros, máscaras assustadoras, chifres, sinos e correntes.

Esses personagens são conhecidos como Pelznickels, tradição inspirada em histórias trazidas por imigrantes germânicos e que atravessa gerações no município. Também chamados de “papai noel do mato”, eles já foram reconhecidos como Patrimônio Histórico Cultural Imaterial de Guabiruba.

Origem da tradição

O Pelznickel surgiu como uma espécie de companheiro — ou até o oposto — de São Nicolau. Enquanto o santo recompensava as crianças bem-comportadas com doces e bênçãos, o Pelznickel tinha a missão de visitar aquelas que não se comportaram durante o ano, com o objetivo de assustar, repreender e fazê-las refletir sobre suas atitudes.

Tradicionalmente, os Pelznickels percorrem as ruas da cidade arrastando correntes, tocando sinos e carregando cajados ou varas. Antigamente, esses objetos serviam para causar medo de verdade. Hoje, eles permanecem apenas como símbolos do caráter disciplinador da tradição.

Pelznickel com chifres em Guabiruba, SC — Foto: David T. Silva/Amplitude Comunicação/Divulgação

Os chifres, um dos elementos mais marcantes do personagem, nem sempre fizeram parte da fantasia. Há registros fotográficos da década de 1950 em que os Pelznickels aparecem sem eles. No entanto, desde pelo menos os anos 1980, os chifres passaram a ser adotados e se tornaram uma marca da tradição local.

O nome Pelznickel vem do alemão: “Pelz” significa pelo ou pelagem, enquanto “Nickel” é um diminutivo de Nicolau. Há também interpretações que ligam o termo a “Pelzen”, que significa bater.

Tradição mantida pela comunidade

Em Guabiruba, a tradição é preservada por moradores e pela Sociedade do Pelznickel, responsável por organizar desfiles, encenações e eventos que atraem visitantes de várias regiões.

Um dos integrantes é Clamir Guilherme Böll, de 23 anos. Mecânico durante o ano, ele se transforma em Pelznickel no mês de dezembro. O contato com a tradição começou cedo: aos 7 anos, improvisou sua primeira fantasia; aos 13, entrou oficialmente para o grupo.

Apesar do visual assustador, Clamir afirma que o objetivo é levar alegria e emoção. A fantasia que ele usa atualmente é feita com barba-de-velho, planta típica da região, e pode chegar a 14 quilos, exigindo preparo físico, hidratação e descanso após as apresentações.

“Quero levar o Natal para quem não está tendo um Natal tão bom. Não tem sensação melhor do que ver o brilho nos olhos das pessoas”, afirma.

Evento movimenta a cidade

Pelznickels em 1954 em Guabiruba, SC — Foto: Sociedade do Pelznickel/Divulgação
Imagens do Pelznickel em 1982 e 1993 — Foto: Sociedade do Pelznickel/Divulgação

A tradição também ganha destaque na Pelznickelplatz, espaço onde os visitantes podem conhecer de perto os personagens e percorrer o chamado Caminho da Tradição. O evento acontece nos fins de semana de dezembro e se tornou um dos principais atrativos natalinos da cidade.

Hoje, o que antes causava medo se transformou em símbolo cultural. Os Pelznickels continuam assustadores na aparência, mas representam união, memória e identidade para Guabiruba, mantendo vivo um Natal bem diferente do tradicional — e cheio de história.

Veja:

Com informações via g1.

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