30 dezembro 2025

Teatro de Contêiner busca acordo após descumprir prazo de desocupação

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O prazo de 90 dias estipulado pela Justiça de São Paulo para que a Cia Mungunzá desocupasse o imóvel público ocupado pelo Teatro de Contêiner, na região da Santa Ifigênia, centro da capital, acabou nessa segunda-feira (29/12), mas o grupo ainda busca acordo com a administração municipal para poder mudar de endereço.

Segundo a Prefeitura de São Paulo, o Termo de Acordo firmado com a companhia previa a retirada integral das estruturas nessa segunda-feira e a transferência para outro espaço oferecido pela gestão municipal. Ao Metrópoles, o Teatro de Contêiner afirmou que aceitou o novo endereço, mas alegou não ter recursos para realizar a mudança.

A companhia disse à reportagem que procura diariamente a Prefeitura de São Paulo para pedir ajuda para a organização da mudança. Até o momento desta publicação, segundo o teatro, não foi marcada uma data para o encontro.

“Esperamos que a desapropriação não aconteça de forma atropelada, causando um imenso trauma e um imenso prejuízo para cidade. São 18 anos de história e construção”, disse a companhia sobre uma possível desapropriação.

Em nota, a prefeitura afirmou que ofereceu apoio financeiro de R$ 100 mil para auxiliar na desocupação do endereço, mas os responsáveis pelo teatro reivindicaram pagamento de R$ 2 milhões, valor considerado “incompatível” pela administração municipal.

Notificação de despejo

O conflito entre as partes começou em maio deste ano, quando artistas do Teatro de Contêiner foram surpreendidos com uma notificação extrajudicial de despejo com prazo de 15 dias para desocupação do terreno.

Em setembro, a Justiça de São Paulo deu 90 dias para que a Companhia Mungunzá deixasse o endereço na Rua dos Gusmões. “O grupo teatral age com total irresponsabilidade ao criar obstáculos para a desocupação do terreno na Rua dos Gusmões perto do prazo final determinado pela Justiça”, alegou a Prefeitura de São Paulo.

A gestão municipal também afirmou que “não descarta tomar todas as medidas necessárias para que a decisão de desocupação do terreno seja cumprida”.

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Para além dos custos da mudança, a Cia Mungunzá se preocupa com o risco de um novo despejo no endereço oferecido pela prefeitura, localizado na Rua Helvétia, nos Campos Elíseos. De acordo com o grupo de teatro, foi solicitada a cessão do terreno por 30 anos, mas a contraproposta foi de 2 anos.

“Nessas condições, permanecemos sem possibilidades para avançar. Não podemos transferir o teatro para um espaço do qual possamos ser removidos novamente a qualquer momento”, falou a Cia em um post nas redes sociais.

“Durante todo o segundo semestre de 2025, buscamos diálogo e sensibilidade da gestão municipal sobre a importância do Teatro de Contêiner. Em troca, encontramos inoperância, negativas monocráticas e um tratamento que nos colocou como infratores, mesmo após mais de uma década de parceria e construção conjunta.”

Protesto e confronto

No dia 19 de agosto deste ano, um protesto de artistas ligados ao teatro terminou em confronto com agentes da Guarda Civil Metropolitana (GCM).

Vídeos mostram GCMs agindo com escudos e spray de pimenta contra artistas da companhia e outros manifestantes. Nas imagens, é possível ver um dos agentes apontando uma arma para um grupo que protesta.

Os manifestantes gritavam palavras de ordem e questionavam a atuação da Prefeitura de São Paulo.

Disputa entre companhia e prefeitura

  • No início de agosto, a Companhia Mungunzá recebeu uma notificação para deixar o espaço onde funciona o Teatro de Contêiner. O documento foi assinado pelo subprefeito da Sé, Coronel Salles, e o prazo de 15 dias terminou no dia 21 de agosto.
  • Em maio, a companhia havia recebido uma notificação extrajudicial da prefeitura, alegando que “a área é um ponto estratégico para que seja instrumentalizado um novo programa habitacional”.
  • O terreno onde está localizado o Teatro de Contêiner é público e está ocupado pela Companhia Mungunzá desde 2016.
  • Na ordem de despejo, a prefeitura afirmou que vai usar o espaço para um novo programa habitacional.
  • A gestão Ricardo Nunes (MDB) também alegou que apresentou propostas de novos imóveis que poderiam ser ocupados pelo teatro.
  • A companhia, por outro lado, afirmou que foi pega de surpresa com a decisão.
  • Em entrevista ao Metrópoles, em maio, um dos artistas da Munguzá, Marcos Felipe, disse que o teatro enfrentou diversos desafios, sempre em diálogo com a prefeitura paulistana.
  • “Nós construímos o teatro de Contêiner, que é referência e tem abrigado, ao longo desses 9 anos, diferentes coletividades. Juntos, já promovemos mais de 4 mil ações artístico-sociais”, disse.

Em nota emitida na ocasião, a prefeitura afirmou que a ação foi motivada pela desocupação de um imóvel ao lado do Teatro de Contêiner.

“O prédio, que está interditado e será demolido pela Prefeitura de São Paulo, foi invadido por um grupo de pessoas que utilizava um acesso clandestino feito a partir do terreno do teatro. Diante da invasão e da negativa para desocupação deste imóvel, foi necessária uma intervenção por parte das forças de segurança. O local está trancado e preservado”, disse o texto.

Artistas da companhia afirmaram, na época, que materiais do teatro são guardados no prédio trancado.

Teatro de Contêiner

O espaço utilizado pela Companhia Mungunzá de Teatro foi montado em 11 contêineres marítimos e, em quase uma década de atuação, já foi indicado a prêmios nacionais e internacionais pela iniciativa.

Para os artistas, “não é justo que, em São Paulo, tenhamos tantos prédios e terrenos ociosos e a prefeitura escolha desocupar um espaço que está sendo destinado à cultura e ao desenvolvimento social”.

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