A corrida de São Silvestre chega à 100ª edição e contará hoje (31/12) com o maior número de participantes em sua trajetória centenária. Mais de 50 mil corredores deverão serpentear por São Paulo em um misto de alegria, emoção e sensação de que mais um ano está chegando ao fim, quando surgirem os primeiros acordes de “Carruagens de Fogo”, na Avenida Paulista.
Pagar promessas, bater recordes pessoais, ajudar o próximo ou simplesmente fazer história na principal prova de rua do Brasil estão entre os objetivos de quem vai correr os 15 km.
Na São Silvestre, ninguém corre sozinho, mas algumas pessoas dão outra dimensão a isso. O coordenador de sistemas Sandro Duarte de Lima, 56 anos, corre em dobro. Ele leva a filha cadeirante, Isadora, ao longo dos 15 km e se prepara para isso com antecedência, porque não pode falhar. “Abandonar não é uma opção”, diz.
O pai que esforça pela filha não esmorece diante das dificuldades da vida e explica que a corrida ganha outro sentido ao lado dela. “A corrida por si só é algo muito prazeroso, que traz muito benefício. Mas, emprestando as pernas para uma pessoa que não tem condições, é algo indescritível. A satisfação é em dobro. Principalmente, para a Isadora, que é a minha filha”, afirma.
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Distribuição de kits e expo da São Silvestre de 2025
William Cardoso/Metrópoles
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Pai e filha em distribuição de kits e expo da São Silvestre de 2025
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Distribuição de kits e expo da São Silvestre de 2025
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Distribuição de kits e expo da São Silvestre de 2025
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Distribuição de kits e expo da São Silvestre de 2025
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Sandro também diz que os benefícios obtidos ao longo da São Silvestre não se esgotam no dia 31 e trazem bons reflexos no convívio em casa, tanto no aspecto mental quanto social.
O pai de Isadora ainda faz um convite. “Todos aqueles que, um dia, tiverem condição de emprestar suas pernas, participar de algum grupo como Achilles, Pernas de Aluguel, Ação PCD, é uma experiência além do que se possa imaginar.”
Pelo pai
A São Silvestre é uma corrida carregada de simbolismo desde sempre. Isso se sente no coração batendo acelerado antes da largada, nas fantasias de quem vê como uma grande festa ou na emoção de quem cruza a linha de chegada como quem vence um desafio pessoal. E se tem que corra pela filha, também há quem tenha começado por causa do pai.
O interesse de Marcel Agarie, 46 anos, surgiu como uma forma de superar e homenagear o próprio pai, que correu a São Silvestre em 1989. “Por muitos anos, meu pai sempre se vangloriou de ser o único da família que tinha corrido”, diz.
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Marcel começou a correr em 2013 e queria igualar o feito. “A meta, o objetivo de vida, virou correr a São Silvestre só para debochar do meu pai. Aí, eu e meu irmão do meio treinamos direitinho e chegamos a correr três edições”, afirma. Depois, foi a vez do irmão mais novo e também da mãe, quando o pai já tinha falecido.
“Não tenho dúvida de que correr a São Silvestre é, em parte, correr com meu pai”, diz Marcel. A corrida passou a fazer parte da vida dele de uma forma tão intensa que o jornalista de origem montou um canal no Youtube e virou também empresário, ao montar stand de venda de produtos em provas pelo Brasil inteiro.
Insatisfação e esperança
Nem tudo era festa no primeiro dia de entrega dos números de peito, no sábado (27/12), no Ibirapuera. A autônoma Antônia Irene de Carvalho, 50 anos, estava na porta de saída da retirada dos kits, segurando um cartaz, pedindo alguma pessoa fizesse a doação da inscrição para ela. A corredora culpou a organização pela “lambança” no dia das inscrições, um processo demorado, confuso e que gerou frustração em muitos.
“Fiquei o dia inteiro na fila de espera e não concluí a minha inscrição. Estou aqui tentando na última hora, porque participo há muitos anos e estou muito triste e decepcionada com o que fizeram com todos nós que estamos aqui”, afirmou. “Teve pessoa que comprou vários ingressos com o mesmo CPF para revender. E nós que comprávamos anteriormente, não conseguimos”, disse Antônia, lembrando que já correu a prova em outras oportunidades.
História
O jornalista Cásper Líbero buscou inspiração em uma corrida noturna francesa para criar a São Silvestre, que teve sua primeira edição em 31 de dezembro de 1925. Na ocasião, 60 atletas estavam inscritos, mas apenas 48 apareceram para a largada, no Parque Trianon, na Avenida Paulista, pouco antes da meia-noite. A corrida teve 8,8 km e terminou na zona norte.
Grandes nomes do atletismo participaram da corrida. Entre eles, o campeão olímpico e lenda do esporte Emil Zatopek, a locomotiva humana, que passou pelas ruas de São Paulo em 1953.
A São Silvestre também evoluiu com o tempo e, 1975, as mulheres participaram pela primeira vez da prova. Foram 14 corredoras e a alemã Christa Valensieck ficou com a medalha de ouro.
A primeira grande mudança na história da prova se deu em 1989, quando deixou a noite da virada para ser realizada à tarde (seria transferida para a manhã mais de duas décadas depois). O primeiro vencedor no novo horário foi o equatoriano Rolando Vera.
Em 1991, a prova ganhou a distância atual, passando de 12,6 km para os clássicos 15 km. Vale ressaltar que a São Silvestre não é uma maratona, prova que tem 42.195 metros.
O lendário queniano Paul Tergat é o maior ganhador da São Silvestre e, em 1995, conquistou a primeira de suas cinco vitórias. Tergat só perdeu uma edição aquelas que participou, em 1997, quando foi superado pelo brasileiro Emerson Iser Bem.
Outro grande nome da prova é o brasileiro Marilson dos Santos, que venceu a corrida em três oportunidades (2003, 2005 e 2010).






