O idoso Raimundo Rufino, de 69 anos, que não aceitou ser atendido pelo delegado Samuel Mendes e pediu um “delegado branco” foi denunciado pelo crime de racismo. O juiz Danniel Bomfim, da 1ª Vara Criminal da Comarca de Rio Branco, aceitou a denúncia contra o homem e, agora na condição de réu, ele tem 10 dias para apresentar defesa às acusações.
Conforme a denúncia do Ministério Público do Acre (MP-AC), no dia 3 de janeiro de 2023, o idoso procurou a Delegacia de Polícia Civil da 2ª Regional, na Cidade do Povo, no Segundo Distrito de Rio Branco, para um atendimento e quando foi apresentado ao delegado de polícia teria feito comentários racistas.
Ao g1, o filho do idoso, Modesto Rufino disse que a família não tinha conhecimento da tramitação do processo e que o pai ainda não tem advogado em sua defesa, portanto, não tinha como comentar.
O documento pontua que o delegado vítima estava trabalhando no dia e informou ao idoso que ele era quem faria o atendimento, o acompanhando até a entrada de sua sala. Foi então, segundo a denúncia, que o idoso perguntou: “onde está o delegado?”. Neste momento, a vítima informou novamente que ele era o delegado responsável pelo atendimento. Assim, o denunciado se recusou a entrar na sala e disse: “não, mas eu queria ser atendido por um delegado branco”.
O MP-AC informou ainda que, ao ser ouvido em sede policial, o idoso disse que não era verdadeira a acusação e que no dia dos fatos foi até a delegacia e a policial que fez o registro o encaminhou até “um homem negro com barba” e que em nenhum momento falou que queria ser atendido por um delegado branco.
“Recebo a denúncia oferecida pelo Ministério Público, acompanhada de elementos colhidos no inquérito policial que revelam indícios da prática de infração penal pelo denunciado”, disse o magistrado no processo.
Prisão na delegacia
Rufino tinha ido na Delegacia de Polícia Civil da 2ª Regional registrar um boletim de ocorrência contra uma vizinha que o estava ameaçando. Ele foi preso por racismo ao recusar ser atendido pelo delegado Samuel Mendes. Em audiência de custódia, a juíza de direito Andréa da Silva Brito concedeu a liberdade provisória a ele, determinando medida cautelar de comparecimento mensal em juízo para justificar suas atividades e, comprovação de residência fixa.
Na época da prisão, o filho do idoso, Modesto Rufino alegou que o pai não é racista, tem problemas de audição e faz tratamento psiquiátrico no Hospital de Saúde Mental do estado (Hosmac). Ele alegou que o pai, ao pedir um “delegado branco”, se referia a um colega de Mendes.
“Ele já tinha ido outras vezes lá [na delegacia] e conversado com um delegado, que ele não se lembrava o nome, mas, por isso o chama de delegado branco. Ele sempre ia com esse delegado, que o escutava, era uma forma de psicólogo. Meu pai não é racista e não entrou no gabinete porque não era o delegado que ele queria”, disse na época.
Na delegacia, o idoso disse que possui dificuldades em ouvir após a Covid. “Se eu soubesse que Samuel Mendes fosse delegado não teria nenhum problema em ser atendido por ele.” Porém, diferente do que diz o filho, o idoso alegou em depoimento que foi a primeira vez que foi até aquela delegacia e que não conhece ninguém. O idoso também tem outros processos relacionados à violência doméstica.
Em entrevista ao g1 após o ocorrido, o delegado relatou que, mesmo com 19 anos de atuação na Segurança Pública, nunca tinha passado por uma situação dessa.
“É algo que pega de surpresa, ainda mais nesses tempos atuais em que as pessoas cada vez mais estão informadas. A tendência é diminuir e não ser de forma tão implícita. Fiquei sem ação, depois fui alinhar as ideias”, lamentou.
O delegado recebeu notas de apoio, tanto da direção da Polícia Civil, como a Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Acre (OAB-AC) e Associação dos Delegados de Polícia Civil do Acre (Adepol-AC).
Por: G1 – Acre.