23 abril 2024

Conheça o cabelereiro acreano que faz cortes gratuitos em abrigos e hospitais: “Por amor”

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É de um meio aparente hostil, entre lâminas, navalhas e tesouras, muitas vezes utilizadas como armas, que vem um exemplo, em Rio Branco, no Acre, de humanismo e solidariedade que deveria ser seguido por integrantes das mais variadas profissões. Num momento de crise econômica, com todo mundo brigando por espaço no mundo dos negócios, o acreano Frankcinato Lima, nascido em Rio Branco, cabelereiro profissional com mais de uma década de formação e cursos inclusive em São Paulo (SP), tira um dia por semana para fazer atendimentos gratuitos a quem precisa de seus serviços.

Ele atende de forma gratuita homens e mulheres em casas de abrigos como o Lar dos Vicentinos ou em unidades hospitalares como a Fundação Hospitalar do Acre (Fundhacre) com cortes que custam, em atividades nos salões de beleza, algo em torno de R$ 50,00 a R$ 80,00 para homens e o feminino a R$ 150,00.

Fosse botar na ponta do lápis quanto perdeu – ou deixou de ganhar, como ele mesmo diz – com os cortes gratuitos nesses valores e o pelo tempo em que se dedica à solidariedade, a quantia chegaria a alguns milhares de Reais. “Isso é algo que pra mim o dinheiro não pagaria com a sensação que tenho quando corto um cabelo em ações de solidariedade. É por amor”, diz o cabeleireiro.

Aos 35 anos de idade, solteiro e sem filhos, ainda morando com os pais, no bairro Areal, ele trabalha de forma gratuita no que ele mesmo chama de “um Dia de Beleza para os mais necessitados”. Faz isso há dez anos e sugere que profissionais de outras áreas, da Medicina, Enfermagem, Direito e outras também pudessem fazer o mesmo.

“Quando a gente faz um bem a uma pessoa, é a nós mesmo que estamos beneficiando. Se um profissional desses de outras áreas soubesse da satisfação que nos dar em fazer esses atendimentos solidários, certamente também tirariam um dia de seus escritórios e consultórios para fazer o bem a quem precisa”, aconselha.

Frankcinato Lima é um profissional bem requisitado em sua área no Acre porque também atende, incluindo com as ações de gratuidade e solidariedade, no interior do Estado. Dirigentes de instituições, da Capital e do interior, interessados em suas atividades sociais, basta entrar em contato em seu Instagran (@limafrankcinato) e marcar a data do atendimento.

De acordo com o profissional, mesmo que as pessoas estejam internadas em casas de abrigos ou em hospitais, cuidar da aparência é importante. “Isso ajuda na autoestima das pessoas. Uma pessoa com uma autoestima elevada é um primeiro passo para enfrentar qualquer coisa, até tratamento médico”, avalia.

Até 2011, Frankcinato Lima vivia de bicos, como um dos muitos subempregados da periferia de Rio Branco, quando se envolveu num crime que, apesar de tanto tempo, continua sob segredo de justiça e sobre o qual ninguém pode falar. Esteve preso preventivamente na penitenciária conhecida como “Papudinha”, em Rio Branco, e lá, enquanto esteve preso, travou conhecimento com os cursos técnicos oferecidos pela Vara das Execuções Penais do Tribunal de Justiça na Comarca da Capital, um programa conhecido por Vepma, coordenado então pela juíza de Direito de primeiro grau Maha Manasfi. Entre os cursos oferecidos, havia o de cabeleireiro.

“Me interessei, agarrei aquela oportunidade e passei a fazer outros cursos. Hoje tenho pelo menos 35 cursos profissionalizantes feitos em São Paulo”, contou o cabeleireiro sobre a origem e sua atividade. Após seis meses de curso, Frankcinato mudou-se para Cruzeiro do Sul para ser instrutor da área do Senac (Serviço Nacional do Comércio), naquela cidade. “Ela foi uma anjo na minha vida”, acrescentou em relação à juíza de origem libanesa que vive no Acre e que lhe ofereceu a oportunidade de uma profissão. Hoje, Frankcinato é um cabelereiro com experiência em cores – “corista, colorimetrista, expet em cortes unissex e visagista”, conforme o próprio se define, ao revelar que vai continuar agindo assim enquanto saúde tiver para poder trabalhar, incluindo os dias de beleza gratuitos.

O que ele não diz – e nem precisa – é que, em matéria de solidariedade e humanismo, é um mestre e um exemplo que deveria ser seguido. Inclusive por profissionais de outras atividades.

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