29 março 2024

Cientistas criam vacina universal para a gripe com 17 versões do vírus a mais que a atual

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A pandemia da Covid-19 ainda nem acabou, mas pesquisadores já direcionam esforços para combater o impacto de futuras emergências de saúde. Entre elas, está o desenvolvimento de uma nova vacina universal para o vírus Influenza, causador da gripe, com 17 subtipos do patógenos a mais que a versão atual disponível nos postos de saúde do Brasil, chamada de trivalente.

A nova aplicação, multivalente, induziu anticorpos de forma bem sucedida em testes com animais e os protegeu contra óbito por todos os 20 subtipos do Influenza conhecidos hoje, alguns letais. Agora são planejados estudos clínicos com humanos.

O objetivo, explicam os pesquisadores responsáveis, é promover uma resposta imunológica mais ampla contra o vírus, que apesar de causar uma doença mais branda hoje ainda provoca um número considerável de mortes e esteve por trás de pandemias passadas, como da gripe espanhola, em 1918, e da gripe suína (H1N1), em 2009.

“A ideia aqui é ter uma vacina que dê às pessoas um nível básico de memória imunológica para diversas cepas de gripe, para que haja muito menos doenças e mortes quando ocorrer a próxima pandemia de gripe”, diz o autor sênior do estudo, Scott Hensley, professor de Microbiologia na Escola de Medicina, da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos.

Papel da vacinas de Covid-19
Os cientistas da universidade americana publicaram o estudo que demonstrou o potencial da vacina em animais ontem na revista científica Science. Nele, escreveram que “é difícil criar vacinas pré-pandêmicas eficazes porque é incerto qual subtipo do vírus Influenza causará a próxima pandemia”.

Hoje os imunizantes são trivalentes (contra 3 subtipos) ou tetravalentes (4 subtipos), no caso das injeções disponíveis na rede privada, embora existam 20 versões conhecidas do Influenza. Isso porque, explicam os pesquisadores, a tecnologia utilizada atualmente não permite de forma tão fácil a incorporação de um número tão alto de variantes do vírus na aplicação.

Agora, na esteira da pandemia de Covid-19, eles decidiram criar uma nova vacina com a tecnologia inovadora de RNA mensageiro (RNAm), que é alvo de pesquisas há décadas mas apenas saiu do papel com os imunizantes da Pfizer e da Moderna para o novo coronavírus.

A alta proteção contra infecção pelas cepas originais e contra desfechos graves mesmo após três anos de evolução do novo coronavírus comprovou o sucesso dessa plataforma, que hoje é estudada para aplicações contra ebola, HIV, zika e muitas outras doenças.

Além disso, o RNAm é fabricado de forma sintética porque atua apenas como um manual de instruções para ensinar o próprio organismo a produzir as proteínas dos vírus, que serão lidas pelo sistema imunológico para criar as defesas. Esse método dispensa o uso de materiais biológicos vivos no laboratório e tornam mais simples a fabricação.

“Para uma vacina convencional, a imunização contra todos esses subtipos seria um grande desafio, mas com a tecnologia de mRNA é relativamente fácil”, diz Hensley

A expectativa não é que a nova aplicação para a gripe seja altamente eficaz em impedir a contaminação por todas as versões do Influenza mas, assim como as da Covid-19 hoje, espera-se que ela consiga proteger contra formas graves mesmo por diferentes mutações do vírus – o que já seria um sucesso.

“Seria comparável às vacinas de RNAm da Covid-19 de primeira geração, que foram direcionadas para a cepa original do coronavírus em Wuhan. Contra variantes posteriores, como a Ômicron, essas vacinas originais não bloquearam totalmente as infecções virais, mas continuam a fornecer proteção durável contra doenças graves e morte”, explica o pesquisador.

Nos testes com animais, o novo imunizante induziu níveis altos de anticorpos para todos os 20 subtipos, que permaneceram elevados por ao menos quatro meses. Agora, a equipe responsável está desenvolvendo estudos clínicos para avaliar a aplicação em humanos.

Caso a estratégia seja de fato eficaz, eles acreditam que pode até mesmo dispensar a necessidade de vacinar a população todo ano, uma vez que a dose multivalente induziria uma resposta de longo prazo e contra todos os subtipos da gripe.

“Achamos que esta vacina pode reduzir significativamente as chances de contrair uma infecção grave por gripe”, afirma Hensley. Em princípio, ele acrescenta que a técnica poderia ser expandida posteriormente para outros patógenos, como o próprio coronavírus.

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